Quando A Hora do Mal começou a ser exibido para a imprensa, vi alguns colegas da crítica expressarem certo alívio com o fato de o filme não ser sobre algo, mais preocupado em ser uma obra de terror em primeiro lugar e não em, necessariamente, exprimir uma mensagem. Nas palavras do cineasta Rodrigo de Oliveira em seu comentário no Letterboxd: “Um filme de terror que não tem nada a dizer sobre o mundo. Graças a Deus”.
Fico um pouco dividido com isso. De fato, se tornou moda nos últimos tempos narrativas que tornam a enunciação dos seus temas mais importante do que qualquer outra coisa. Fale Comigo, por exemplo, pesa tanto a mão em sua metáfora sobre vício que sufoca quaisquer outras sensações que poderiam surgir.

Por outro lado, filmes de terror, quase sempre, são sobre algo, mesmo que não esteja explícito. O Massacre da Serra Elétrica possui uma reflexão sobre a decadência de um estilo de vida americano, onde resta pouco espaço para a juventude. Às vezes, claro, uma obra é sobre seus próprios prazeres, com a franquia Premonição sendo sobre as mortes inventivas que cria para seus personagens.
A Hora do Mal tem um pouco de cada coisa. Sua trama sobre o misterioso desaparecimento simultâneo de 17 crianças de uma cidade americana apresenta uma comunidade que se desconhece. Archer (Josh Brolin), pai de uma das crianças desconhecidas, interage com outra família em sua investigação, revelando que, até então, nunca tinham conversado, mesmo os filhos estudando na mesma escola e turma. Justine (Julia Garner), a professora da classe onde todos os desaparecidos estudavam, é hostilizada o tempo todo, mesmo que nada aponte para seu envolvimento no caso. A própria estrutura do filme, em capítulos, isola os personagens, cada um preso às suas perspectivas, sublinhando a falta de convívio entre as partes.
Mas, eventualmente, essa estrutura narrativa começa a jogar contra o próprio filme, que frequentemente muda de visão, mas a mudança em si revela muito pouco do mistério ou dos personagens. Para citar um exemplo, no momento em que acompanhamos o policial Paul (Alden Ehrenreich), vemos James (Austin Abrams) tentando invadir um prédio para roubar algo. Quando vemos a situação pela ótica de James, só confirma-se o que Paul já havia visto.

Com o filme sempre se reiterando, onde cenas se repetem sem que a repetição revele algo novo, A Hora do Mal parece somente querer protelar a sua conclusão, ou aumentar o mistério em torno do desaparecimento central à história, mas não funciona, uma vez que as revelações dizem mais sobre os personagens do que sobre as crianças desaparecidas.
Contudo, o clímax chega, e a produção parece soltar toda a violência e humor que estavam represados até então. O pouco subtexto que havia sai pela janela e dá lugar a violência e comédia, abraçando o absurdo da situação e criando sequências memoráveis, tanto por serem grotescas quanto hilárias. A Hora do Mal até parece querer falar algo sobre o mundo, mas fica claro que o seu melhor está nesses momentos, quando se entrega a impulsos menos nobres e, francamente, muito mais divertidos.

