Alguém poderia escrever um manual sobre como se deve reagir a esse tipo de notícia, se as circunstâncias não forem favoráveis ao casal. Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. Seria bastante útil para homens como eu.
O livro de Marçal Aquino já se destaca na estante da livraria ou do sebo, porque seu título fascina o leitor no primeiro instante. “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”. Impossível não querer saber que notícias, que lábios, que história as páginas vão trazer. Ao primeiro contato com as palavras escritas, logo impressiona o estilo do autor, que dá as informações ao leitor sempre aos poucos: informações pequenas, numa escrita pequena, em pequenos movimentos. Uma grande história.
O NotaTerapia aceitou a difícil tarefa de selecionar as melhores citações da obra. Confira (e não deixe de ler o livro)!
O segredo, dizia Chang, o chinês da loja, não é descobrir o que as pessoas escondem, e sim entender o que elas mostram. Mas Chang está morto. Existe algo mais íntimo para exibir ao mundo do que as entranhas? Existe algo tão obsceno?
Ela congelou o gesto de colocar as fotos no envelope, virou o rosto e me estudou, como se avaliasse se eu tinha mérito suficiente para receber o que pedia. Sustentar aquele olhar escuro foi uma experiência difícil. Fez com que eu me sentisse desamparado. Fiquei com a impressão de estar sendo visto de verdade pela primeira vez na vida. E também de estar vendo algo que o mundo não tinha me mostrado até então.
O que diferencia uma pessoa de outra, ele acrescenta, é o quanto cada um quer o que não pode ter. Nossa ração de poeira das estrelas.
O trecho está grifado no livro. Nele, o professor Schianberg dá voz a Nietzsche – “Há sempre um pouco de loucura no amor, mas há sempre um pouco de razão na loucura” -, para depois contestá-lo, lembrando que na loucura dos amores contrariados não há espaço nenhum para a razão, apenas para mais loucura.
O careca tosse – e fala do fim sem conhecimento de causa. Não tem ideia, mas fala do fim. Todos falam, é fácil. Quero saber quantos tiveram a coragem de ir até lá. De encontro ao fim. Eu tive.
Talvez, talvez. No reino amoroso, o professor Schianberg ensina, o “talvez” é moeda sem nenhum valor. Talvez se eu tivesse perdido aquele avião, talvez se não tivesse tomado aquele trem, quando ainda existiam trens. Se eu não tivesse aportado ali ou não andasse atrás de putas pra fotografar. Se tivesse ido pra outro lugar…
Minha vida não estaria completa. Porque nenhuma vida está completa sem um grande desastre, como afirma Schianberg. Um sábio. Pervertido, mas sábio.
(…) um ficou curioso pelo inferno do outro.
Eu também acho que valeu a pena, seu Altino, eu deveria dizer. Valeu a pena ser invadido por uma onda de felicidade, ser tocado por uma tormenta. Uma vez, no interior dos Estados Unidos, fotografei uma placa que dizia: “No one forgets a hurricane”. Dá pra esquecer?
O careca dá uma risada sinistra. Vida. O que resta pra ele? O que o careca pode esperar da vida daqui pra frente? Só mais rugas. No entanto falamos da vida o tempo inteiro, mesmo quando o que vivemos não pode, de jeito nenhum, ser chamado de vida. Quando não há mais vida, e nada pode ser mudado em nossa história.
Uma felicidade sem futuro, como qualquer felicidade que se preze.
Nunca prometemos nada um ao outro, e eu sabia que podia acabar de repente. Poema que cessa antes de virar a página. Um haikai.
O que acontece é que, quando estou com você, eu me perdoo por todas as lutas que a vida venceu por pontos, e me esqueço completamente que gente como eu, no fim, acaba saindo mais cedo de bares, de brigas e de amores para não pagar a conta. Isso eu poderia ter dito a ela. Mas não disse.