“Bendito Sejas! Estás perdoado de muitas travessuras por haveres interrompido, por um momento, em nossa imaginação, a hedionda sensação de permanente terror…”
Monteiro Lobato,
sobre o Saci, em meio a Primeira Guerra
O Saci, de Monteiro Lobato, é mais uma das obras do autor sobre o Sítio do Picapau Amarelo. Dessa vez, Lobato, fã das lendas de nossa cultura popular, usa como personagem principal a figura do Saci. Pedrinho, curioso para saber como era o Saci, que nunca havia visto, pergunta ao Tio Barnabé como poderia pegar um. Assim, ele pega seu Saci e vai com ele para o meio da floresta. Juntos os dois vivem incríveis aventuras, encontrando figuras como o Curupira, Lobisomem, Iara e, claro, a Cuca. A esperteza do Saci, característica comum de sua figura, é claro, faz com que a figura lendária passe vários ensinamentos para Pedrinho que, incrédulo, fica atento para aprender. Trata-se de mais uma incrível obra de Lobato em que ele discorre sobre as lendas nacionais para mantê-las vivas e cada vez mais na memória de nosso povo.
O NotaTerapia separou as 9 melhores frases da obra. Confira:
Porque as árvores eram muito velhas, e árvore quanto mais velha melhor para a beleza e a frescura da sombra. Árvore nova pode ser muito boa para dar frutas bonitas, baixinhas e fáceis de apanhar. Mas para a beleza, não há como uma árvore bem velha, bem craquenta, com os galhos revestidos de musgos, liquens e parasitos.
É o que os sábios chamam a luta pela vida. Uma criatura vive de outra. Uma come a outra. Mas, para que uma criatura possa comer a outra, é preciso que seja mais forte – do contrário vai comer e sai comida.
Inda é muito cedo pra você “ler” a mata. Isto é livro que só nós, que aqui nascemos e vivemos toda vida, somos capazes de interpretar. Um menino ,da cidade, como você entende tanto de natureza quanto eu entendo de grego.
Quem observa e estuda, acaba sabendo. Aqui, porém, nós não precisamos estudar. Nascemos sabendo. Temos o instinto de tudo. Qualquer desses bichinhos que você vê, mal sai do casulo e já se mostra espertíssimo, não precisando dos conselhos dos pais. Bem consideradas as coisas, Pedrinho, parece que não há animal mais estúpido e lerdo pra aprender do que o homem, não acha?
Ler! E para que serve ler? Se o homem é a mais boba de todas as criaturas, de que adianta saber ler? Que é ler? Ler é um jeito de saber o que os outros pensaram. Mas que adianta a um bobo saber o que outro bobo pensou?
Cada criatura tem o direito de viver e para isso está autorizada a matar e comer o mais fraco. Mas vocês homens fazem guerra sem ser movidos pela fome. Matam o inimigo e não comem. Está errado. A lei da vida manda que só se mate pra comer. Matar por matar é crime.
Dentro de cada criatura, bichinho ou plantinha, há uma força que a empurra para a frente. Essa força é a Vida. Empurra e diz no ouvido das criaturinhas o que elas devem fazer. A vida é uma fada invisível.
A vida muda-se de um ser para outro. Quando o ser já está muito velho e escangalhado, a Vida acha que não vale mais a pena continuar lidando com ele e abandona-o. Vai movimentar um novo ser. A fada invisível diverte-se com isso.
A mãe do medo é a incerteza e o pai do medo é o escuro. Enquanto houver escuro no mundo, haverá medo, haverá monstros como os que você vai ver.
Edição: Biblioteca Azul, 2016