Atchim. Saúde. Saúde. Saúde, saúde, saúde saúde saúde. Porra.
Nem mesmo era catarro, se fossem ver bem, mas ainda assim sobrepôs-se um fluído ao outro, da mucosa às bolas em um único instante, o amém educado do espirrante substituído sem deliberação, nisso sem sutileza alguma também, por aquele porra. A lógica, irmãos, deveria ter sido observada desde o princípio por aí, porque nunca antes vimos, qualquer que seja o marmanjo ou marmanja, alguém abençoar a saúde oferecida depois de um espiro com sêmen, porra, gozo, leitinho ou o deus a quatro. A verdade é que um corrimento não conseguiu substituir o de cima porque nem sequer escracho fez aquele espirro, contraçãozinha vulgar que foi de um indivíduo, feita pra se expulsar sabe-se lá caralho o que. Importante aqui, irmãos, é que pela primeira vez o sagrado, o sabe tudo, o manda chuva, o B.A.M. B.A.M. B.A.M., o melzinho da alma, o suspiro santo, o benditinho do amém foi substituído por um porra. Antes que maldigam este ser que gentilmente vos cronica, entretanto, é preciso dizer a suavidade suposta que antes substituir um amém por um porra do que um catarro por uma porra. A cena, que incluiria líquido seminal saindo com plenos aromas de cândida por onde se dá a fungada em cândida, não é das melhores, ainda mais supondo a plateia ao redor, que se não bastasse todo o atordoamento por ver saindo catarro incolor nas mãos do espirrante, no momento teria que se contentar com aquela mão melecada, grudenta, lipidicamente revestida de material de vida que, apesar de vulgar em cada quarto e banheiro e motel no derramar de uma benção esquecida, ali se transformaria em objeto de profanação, de perturbação e horror, pois onde já se viu, que coisa sem cabimento, espirrar gozo no meio de tanta gente. Pois bem, assim agradeçam à narrativa que gentilmente se contentou em dizer um porra e não de construir uma porra.
Voltando às ideias anteriores, então deveríamos indagar o que fazia o palavrão ali, no lugar de um amém, acoçando o espaço que até pouco não precisava de gente assim para lhe provocar tamanhas consternações. A resposta, se ainda não a dei a vocês, pôde ser observada pelo fenômeno em série que se seguiu, pela audácia do diabo, se é que foi ele, de se introduzir pelos cantos todos até que não houvesse um zé ou maria sequer que não dissessem Que Deus te foda, que foda te abençoe, que os caralhos o protejam, virgem grelhíssima amada, graças ao escroto, ou trocando os améns, todos eles, inclusos aleluias e hosanas, em buceta, pau, jebão, cu, rola, fodida, comida, anal, trepa e uma sucessão absurda de variações que não seriam possíveis em outras circunstâncias que não neste pavoroso fenômeno. Por fim, as missas e cultos se tornaram o antro da maldizência de caráter público e, para não ferir a integridade de tão digníssimas instituições, decidiu-se que declarariam as igrejas que deus, suas referências, sua verdade, sua palavra, seu legado, haviam sido substituídos ordinariamente por palavrões, e que se qualquer um tentasse clamar seu nome, invoca-lo da maneira que fosse, um insulto grande e debochado sairia da boca. A solução do anúncio foi feita genialmente no papel e proclamada estupidamente em várias praças da cidade, ao que houve confusão tal qual a de Babel, pois se confundiram na mensagem às menções a uma tal de bola substituída pelo grelo duro, o que causou um pandemônio poucas vezes visto, haja que todos achavam estar fazendo parte não de uma benção, mas sim de uma gozação, o que se estivesse no texto seria literalmente trocado no ato.
As consequências da substituição, contudo, não foram tão asquerosas quanto haveria de se esperar. Se antes chamávamos o bendito do senhor a intervir em tudo quanto nos fosse conveniente, e até mesmo nos assuntos em que nem queríamos seu sagrado narigão metido, mas que por força do hábito e dos costumes fazemos clamar, também assim funcionaram os grandes palavrões. Putas, viados e órgãos genitais, no começo tão ojerizados pela turba das pessoas a se envolver nos mais inusitados e às vezes até urgentes dos assuntos, breve começaram a se tornar parte da vida de todos, não havendo um único espirro que não fosse devidamente abençoado com um porra, uma pessoa que não fosse pra casa protegida de rola, um ente morto, coitado, a ir morar com os grelos do céu cantando gemidas nos portões de seu cu.
Mas os dias passam, a narrativa também, e se o tempo dá voltas, essa também dá, porque uma hora fulana fez atchim, lhe desejaram saúde e, surpresa, o amém foi dito. Hosana, aleluia, glórias ao senhor, à virgem santíssima que de grelo já não se reveste mais, estavam de volta os santos, os divinos, os milagres e bendita dignidade pública, que nem havia lá sido tão alterada pois estavam todos já muito bem conformados com suas picas, caralhos e cus. Tanto que, enquanto retomavam as igrejas suas devidas programações normais, outros cultos se alastraram, misteriosos, resolutos a deixar que a troca não os afetasse e clamando eles insultos propositais no lugar do nome de deus, dizendo que já que não tinham alívio da alma, sentiriam um pouco de alívio de carne. Aliás, teologia muito interessante nasceu desse grupo, resultado de severas conspirações em churrasqueira de domingo, dizendo que havia sido a manobra extraordinária de substituição não arquitetada pelo diabo, mas sim por deus, que desejoso de voltar a seu sagrado, sua miraculosidade, confundiu a língua para que lhe trocassem por uma caralha qualquer e voltou, depois, para fazer-se sagrado num mundo repleto dos mais pavorosos xingamentos.
Assim deu-se o caso curioso das trocas de deus por insultos e, não fosse o cansaço do narrador, lhes contaria no que se deu quando, numa gravação amadora feita com câmera de celular de 13 megapixels, a figura passiva, no seu ato de furor e expressão artística, disse para que metesse a cruz no seu jesusão, revelando assim que, mais uma vez, por deus, por diabo, ou pelo caralho que fosse, trocava o senhor de lugar com coisas que estavam bem longe do espírito.