Quando a morte se aproxima, imaginar é a última saída. É disso que se trata Viver dentro do fogo, do autor contemporâneo francês Antoine Volodine, publicado pela Editora Ercolano e cuja tradução brasileira é assinada por Julia da Rosa Simões.

O que fazemos quando só nos resta um segundo de vida? Em Viver dentro do fogo, esse instante se expande para conter mundos inteiros. Em meio a uma guerra, o soldado Sam vê uma bomba de napalm cair do céu. A morte avança sobre ele na forma de uma nuvem laranja incandescente. No tempo ínfimo que lhe resta, ele inventa histórias para povoar seu próprio fim.
Essa explosão criativa se desdobra em narrativas que desafiam a realidade: estepes ermas, clãs, banditismo, rituais xamânicos e figuras familiares inventadas acompanham o protagonista na sua travessia entre a vida e a morte. Parentes-bruxas que colecionam homúnculos, as exéquias de um avô, deixado nu à mercê dos urubus, encontros em cemitérios de automóveis transformados em espaço de aprendizado. No coração das chamas, a imaginação não apenas resiste: ela se torna a própria vida.
Mais do que um romance sobre guerra ou distopia, Viver dentro do fogo é um tributo à potência criativa do ser humano. Volodine constrói, a partir do segundo final de um soldado, um mosaico de memórias inventadas que se torna um ato de insubmissão contra o apagamento — uma declaração de que, enquanto for possível criar, não estaremos inteiramente mortos.
Entre o caos e o surrealismo, Volodine — um dos mais importantes nomes da literatura francesa contemporânea — elabora um romance em que humor, violência e beleza se fundem. Viver dentro do fogo chega aos leitores brasileiros ávidos por distopias, relatos de um mundo já morto, metafísico e, sobretudo, histórias que mostram que, mesmo diante da morte, imaginar é o gesto mais radical.
Sobre o autor:

Antoine Volodine é um dos autores que compõem a corrente literária chamada de “pós-exotismo”. Com uma obra romanesca que soma aproximadamente cinquenta títulos, o autor francês mescla elementos fantásticos e políticos, rejeitando o realismo em prol de um realismo mágico e de uma literatura engajada.

