A fascinação que a vida de Cazuza causa faz com que sua história tenha sido contada e recontada desde sua morte em 1990, em decorrência de complicações com a Aids.
A literatura, o cinema, a televisão, o teatro… todas as artes já tentaram narrar e desvendar porque sua história move tanto a gente. Ontem, tive uma das experiências mais incríveis da vida, ao ser convidado para assistir ao documentário Cazuza – Boas Novas, de Nilo Romero, no Cinesystem Belas Artes, em Botafogo, no Rio de Janeiro.
Cazuza – Boas Novas (2025) é um filme profundamente intimista, uma vez que seu diretor e roteirista, o musicista Nilo Romero, foi amigo pessoal e um dos músicos da banda de Cazuza, inclusive na turnê mais importante de sua vida, a sua despedida com O Tempo Não Para. O filme recupera imagens de arquivo perdidas, como o casamento de George Israel e uma gravação deste último show feito pelo também amigo, compositor e parceiro de composição de Cazuza.
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A obra não tem medo de ser simples e conta com uma peça importante: o afeto pelo qual os entrevistados têm por Cazuza e a intimidade que eles têm com Nilo para compartilhar não apenas o que se já sabe, as histórias e peripécias do imparável cantor, mas também minúcias, sentimentos, percepções, sensações fugidias de quem dividiu não só a arte, mas a vida com Cazuza.
Dentre os entrevistados estão Gilberto Gil, Leo Jaime, Frejat, Flavio Colker, Arthur Dapieve, Ney Matogrosso e Lucinha Araújo, mãe de Cazuza que, juntos, formam um mosaico de experiências. Desde a visão jornalística de Dapieve, das imagens projetadas pelas fotos de Colker, até o lado amoroso com Ney.
Um dos momentos mais importante de Cazuza – Boas Novas está na polêmica imagem revelada do cantor cuspindo na bandeira brasileira durante seu show ao receber uma bandeira enquanto cantava Brasil. Podemos ler o recorte de jornal com a resposta de Cazuza e ouvir a versão de Lucinha Araújo, que estava com Cazuza no momento em que recebe uma ligação do Globo. Polêmica, na verdade, não houve nenhuma, pois Cazuza sabia quando e como se deveria respeitar a bandeira de nosso país.

Além disso, podemos acompanhar um pouco mais sobre seu último disco, Burguesia (1989), gravado durante os últimos dias de sua vida, com composições feitas às pressas e gravações realizadas com Cazuza deitado, aos 42 de febre.
Cazuza – Boas Novas atualiza mais uma vez a sensação inescapável, vivida por todos ao entrar em contato com a história do cantor: uma vontade infinita de também viver, de gastar a vida, de queimar a vela por todos os lados e combater todo tipo de poder e caretice. Um documentário intimista que revela um Cazuza completo e maduro, diferente da imagem de apenas um tresloucado que alguns tentam colar no artista.

Na música “Boas Novas”, Cazuza diz que “viu a cara da morte e ela estava viva”. Neste documentário, a gente descobre que Cazuza enfrentou a morte e morreu para poder viver. E pra sempre.
Veja o trailer:

