Você já ouviu falar em Couchsurfing? Em “Procura-se um sofá”, o jornalista Fernando Baldan narra a experiência de dez anos viajando a vários países e conta situações curiosas deste estilo de viajar baseado na confiança mútua.
Trocar o hotel ou Airbnb por um sofá gratuito na casa de gente disposta a fazer amizade. É isso que Fernando fez em várias cidades ao redor do mundo e relatou a experiência no livro “Procura-se um sofá”, publicado pela Folhas de Relva Edições.

O “sofá” é uma metáfora para ser hospedado pelos adeptos do Couchsurfing, rede mundial de turistas descolados. O viajante pode ter realmente que dormir no sofá da sala, mas pode ser também num quarto de hóspedes, dependendo da estrutura do anfitrião. Mas isso é só um detalhe. O objetivo da rede social é conectar pessoas ao redor do mundo promovendo a troca de culturas e experiências.
O livro, misto de narrativa de viagem e relato pessoal, abrange um período de cerca de dez anos e tem uma série de situações curiosas envolvendo surfistas de sofá em cidades como Roma, Milão, Praga, Barcelona, Porto, Londres e Paris, além de São Paulo, Curitiba, Rio e Puerto Iguazú.
Narrado com toques de jornalismo gonzo, Fernando Baldan vai a fundo no surfe de sofá, abordando os altos e baixos da comunidade de viajantes ao longo dos anos. Ele também dá um panorama dos locais e eventos onde foi, como o aniversário da reunificação alemã em uma Berlim que se esforçava para não esquecer os horrores do nazismo, a festa de La Mercê em Barcelona, com tendas cheias de livros e gente dançando, a Nuit Blanche de Paris, e o carnaval infindável de Montevidéu.
Criado no início dos anos 2000, o Couchsurfing reúne aventureiros, mochileiros, estudantes, nômades digitais e entusiastas culturais. A dinâmica da plataforma é baseada na confiança mútua, onde viajantes podem buscar anfitriões no destino desejado.
No site da comunidade de viajantes, cada perfil tem depoimentos de gente que foi recebida ou hospedou alguém. Esses testemunhos geram confiabilidade e ajudam bastante na hora de enviar uma solicitação de hospedagem. “Teoricamente, o couchsurfer é um ‘candidato a amigo’, uma pessoa disposta a te receber de graça na casa dela com quem, à princípio, você pode ter afinidade. Só que nem sempre o santo bate. Quando isso acontece e já aconteceu comigo, você tem que procurar outras coisas para fazer e até encurtar sua estadia na casa dessa pessoa”, afirma Baldan. “Na minha primeira vez em Londres, o que tinha começado como um passeio legal nos arredores de um bairro moderninho, onde um holandês que me recebeu morava, passou a ter um clima estranho e achei melhor ir para um hostel perto de onde ia ter um show que eu queria ver”, relata.
Todos os infortúnios, assim como a parte da boa da aventura são abordados em “Procura-se um sofá”.
Em um capítulo situado em Paris, o jornalista menciona que voltou a andar de bicicleta, depois de mais de 15 anos sem passar perto da magrela, graças ao anfitrião que o hospedou. “O cara que estava me recebendo sugeriu um passeio de bike e me alugou uma bicicleta. Fazia quase duas décadas que eu não pedalava e, de repente, lá estava eu andando de bike na capital francesa no meio dos carros. Pode parecer uma coisa tola, mas aquilo trouxe recordações da infância e fez com que eu me sentisse muito bem, junto com uma sensação de liberdade. Nem a chuva conseguiu atrapalhar a experiência”, conta.

Proporcionar experiências genuínas é um dos aspectos do Couchsurfing, que chegou a ter 15 milhões de usuários cadastrados em mais de 200 mil cidades ao redor do mundo. Se antes a plataforma estava no auge da popularidade, com veteranos reclamando do excesso de “surfistas”, hoje a coisa mudou.
Durante a pandemia, quando tudo parou, o Couchsurfing começou a cobrar uma taxa dos usuários, justificando que era o único modo de manter a rede funcionando. “Muita gente que conheço não voltou para a comunidade depois disso, por conta da pandemia na época e pela cobrança de taxa”, diz Baldan. “Acessando o site, você percebe uma queda considerável na atividade do pessoal, sobretudo na quantidade de eventos. O blog da página informa que houve uma redução de cerca de 90% de usuários. É como se rede social estivesse recomeçando. No livro, dou uma esmiuçada nisso, mas deixo claro que o Couchsurfing continua vivo, relatando, por exemplo, fatos inesperados do pessoal durante um show que parou o Rio de Janeiro no ano passado. Sem mais spoilers.”
Sobre o autor
Mineiro de Poços de Caldas, Fernando Baldan é jornalista formado na PUC-Campinas, pós-graduado em jornalismo literário pela ABJL (Academia Brasileira de Jornalismo Literário). É assessor de comunicação e funcionário público. “Procura-se um sofá” é seu primeiro livro.