Quadril & Queda
De um livro de poemas escrito com o corpo todo, como este Quadril & Queda, de Bianca Gonçalves, não se deve deixar escapar nenhum detalhe. Qualquer deslize pode quebrar o ritmo a que a poeta nos convida. Desde a epígrafe de Harmony Holiday (“Reparations begin in the body”), que não deixa dúvida de sua vocação política, passando pela dedicatória às “meninas que dançavam escondido” (reparem que o verbo aponta para o passado e, assim, atiça o presente), este livro se articula com o vigor e a beleza de um corpo que se ergue e dança, encanta e luta.
É desse corpo — “com pesos, grooves, curvas, swings, bounces e circularidades”, como nota Adnã Ionara no texto de orelha — que se projeta uma voz cuja força impressionante é da mesma natureza da liberdade e da altivez que se descobrem e afirmam entre passinhos e diplomas. A menina, cada vez menos menina, fala alto: “meu ventre pra frente e/ pra trás pra frente e/ pra trás: o ocidente inteiro/ em derrocada”.
O livro começa com uma série dedicada “Às funkeiras” e se divide em duas partes nomeadas com as palavras que formam o título. Em “Quadril”, o corpo afronta os limites do mundo e se mostra: a cintura que a calça não esconde, o “umbigo em sacrifício” no inverno, “tanta raba de fora”. Não resta dúvida de que “a menina está crescendo/ e não há nada/ que possa contê-la”. Em “Queda”, ainda que a música cesse e a dança dê lugar a outras formas de luta, é possível ver como se elabora essa dança para além da dança que é, para as mulheres negras, poder dizer não a tudo que lhes oprime.
A poeta faz vibrar os diferentes ritmos do universo de referências do baile e da vida em torno do baile. Escreve como quem dança, mas também como quem luta, e convoca a avó, a mãe, as mulheres todas da família, da vida, da história: “uma preta, duas pretas, todas/ que são orgulho pra família/ toda, todas com beca e/ diploma/ vingarão”. Sim, aprendemos com Bianca Gonçalves que dançar é vingar. E é só o começo.
Sobre a autora:
Bianca Gonçalves (São Paulo, 1992) é poeta, performer e tradutora. Graduada em letras pela Universidade de São Paulo, onde também concluiu o mestrado, atualmente é doutoranda em teoria e história literária na Unicamp. É autora dos livros de poemas como se pesassem mil atlânticos (Urutau, 2019) e a sexualidade de meninas ex-crentes (Garupa, 2021).
Sobre a plaquete – Palavra nenhuma
“A gente só se afoga quando perde/ a calma” — a voz que recupera essas palavras, ditas num mergulho no mar há muitos anos, é a de uma poeta que acaba de perder o pai e se vê à deriva entre as memórias e sensações que lhe atravessam. Lilian Sais, em Palavra nenhuma, escreve como quem procura se reorientar dentro de si após o baque da despedida. Para lidar com a morte, ela volta ao próprio nascimento, o momento em que o pai lhe deu um nome que termina com “n de navio”. Embarcar nesse vínculo profundo com o pai é o início de uma jornada de afetos em que ela tenta reencontrar e reconstruir a memória da relação entre eles.
Para se orientar, Lilian recupera os presentes que ganhou do pai e conversa com eles ou, por meio deles, com ele, Roberto. Feitos para ajudar a localizar onde estamos no tempo e no espaço — uma ampulheta, um telescópio, uma bússola, um relógio —, agora eles são os instrumentos de aproximação entre o universo perplexo do luto e aquele em que a poeta nasceu, o lugar no qual o pai ficou enquanto Lilian cresceu (aprendeu a nadar sozinha, viajar por aí, ler grego antigo) e ao qual a poeta precisa voltar para encontrá-lo — encontrar-se, no fundo. E não afundar.
A vida não pode ter terminado assim: “palavra nenhuma” que cai como um grão de areia entre tantos que caem na ampulheta. Diante da atendente da funerária, para quem “não tem nada pior/ que uma unha partida”, a poeta tem que responder se o falecido deixa filhos: “eu digo sim/ eu digo eu”. E, assim, no ponto em que a história poderia terminar, ela recomeça. Esses versos que dizem tanto com tão pouco, atando as pontas da vida para manter por perto o que ama, ensinam que é preciso reencontrar esse “eu”, perdido numa “casa/ [em que] nunca falávamos/ das perdas”, sem “palavras/ ditas por inteiro”, agarrando-se a elas como tábua de salvação.
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Sobre a autora da plaquete:
Lilian Sais é poeta e romancista, formada em letras pela usp, onde também concluiu o mestrado e o doutorado em letras clássicas. Publicou, entre outros livros, O funeral da baleia (Patuá, 2021), fomentado pelo Proac e finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, Motivos para cavar a terra (Cepe Editora, 2022), vencedor do 6º Prêmio Cepe Nacional de Literatura, e O livro do figo (Macondo, 2023), também fomentado pelo Proac.
Sobre a coleção
O Círculo de Poemas é a coleção de poesia da editora Fósforo, que já conta com mais de cinco dezenas de títulos, entre livros e plaquetes, formando um catálogo repleto de grandes autores brasileiros e estrangeiros, contemporâneos e clássicos, além de apresentar novas vozes e resgatar obras importantes. Nas charmosas plaquetes, a coleção abriga tanto poemas exclusivos quanto ensaios, antologias e outras voltas pelo universo da poesia. A coleção funciona como um clube de assinaturas que envia mensalmente aos leitores um livro e uma plaquete, também vendidos em livrarias de todo o país a partir do mês seguinte. Além de receber as publicações com antecedência em sua casa e de dar um apoio que é fundamental para a coleção, o assinante paga um valor fixo bem mais vantajoso que o da compra dos volumes avulsos e conta ainda com descontos em diversas livrarias, editoras e outras marcas parceiras do Círculo de Poemas.
Ficha Técnica
Título: Quadril & Queda
Autora: Bianca Gonçalves
Formato: 13,5 x 20 CM
Número de páginas: 64
ISBN: 978-65-84574-96-0
ISBN do e-book: 978-65-84574-97-7
Preço do livro: R$ 64,90 (e-book R$45,40)
Envio da caixa para assinantes: junho
Data de livrarias: 10/7/2024
Editora: Círculo de Poemas
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Ficha Técnica – Plaquete
Título: Palavra nenhuma
Autora: Lilian Sais
Formato: 13,5 x 20 cm
Número de páginas: 40
ISBN: 978-65-84574-91-5
Preço da plaquete: R$ 44,90
Envio da caixa para assinantes: junho
Data de livrarias: 10/7/2024
Editora: Círculo de Poemas
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