O Último Animal (2022), filme do português Leonel Vieira, se passa em sua totalidade no Rio de Janeiro e conta com um elenco de peso. Não posso dizer que gostei do filme e poderia passar aqui algum tempo falando das coisas que não gostei, então prefiro dar a volta e dizer um pouco do que podemos fazer com as coisas que não gostei.
O filme é uma coprodução Portugal x Brasil inspirada em fatos reais. A trama percorre o submundo do jogo do bicho e das favelas do Rio de Janeiro contando duas histórias simultâneas: De um lado, Alex é um gringo que veio trabalhar numa ONG e passa a trabalhar lavando dinheiro do jogo do bicho. Do outro, Didi é um jovem de favela, irmão do dono do morro, que está tentando arrumar estágio numa grande empresa. Leblon-Barra, Rocinha é o cenário.
[O filme, que parece ser filho bastardo dos filmes antigos de favela brasileiro, com narração à lá José Padilha, faz dos estereótipos o seu desfile, no melhor estilo filme pra inglês ver.
A visão exógena da vida carioca e da política brasileira, sem pensar nos atravessamentos de classe e raça e tratando tudo como sendo um grande problema do “sistema”, faz com que o filme repita os erros que ele mesmo pretende denunciar. A forma que sexualiza a mulher negra, que insere uma personagem travesti aleatoriamente, quase pretende fazer isso criticamente, mas circularmente faz uso das próprias formas que pretende criticar. Retroativamente, tendo a pensar que se o filme é de 2022 e realizado em 2020, deve ter sido escrito entre 2017/18, o que pode ter causado o gap temporal das discussões, entre ideia e obra final.
A grande diversão de O Último Animal (2022) é ver as deliciosas interpretações de um elenco que maneja mudar influxos, ritmos e línguas. Como se estivesse em um grande capítulo de novela, tudo é ágil e bem realizado, com a câmera nervosa para dar uma ideia de cinema espectador real, também ajudam numa sensação de tensão.
No mais, é um filme para as prateleiras dos filmes de televisão, principalmente no exterior em que um certo fetiche latino-brasileiro ainda habita com força. Um filme que tem quase tudo perfeito, mas erra no conceito. E isso pesa muito.
Com distribuição para os cinemas pela Cinecolor Filmes Brasil, o filme entra em cartaz no dia 7 de março