Um crime real que abalou a cidade do Rio de Janeiro. Machado de Assis não só acompanhou o caso como possivelmente escreveu sobre, sendo ele uma das influências para Dom Casmurro. De acordo com a história, nos dias seguintes à noite de 6 de novembro de 1866, não se falava de outra coisa no Rio de Janeiro.
Naquela noite, na rua dos Barbonos, o médico José Mariano da Silva matou a mulher, Helena Augusta, com golpes de bisturi no pescoço. Ele suspeitava que Helena tivesse um caso com o vizinho Raimundo Martiniano. O escândalo não ficou restrito aos fuxicos da corte. Teve ampla repercussão na imprensa da época, inclusive no jornal “Diário do Rio de Janeiro”, no qual trabalhava um jovem chamado Joaquim Maria Machado de Assis.
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É essa a fixação do narrador de “O Dom do Crime”, romance de Marco Lucchesi, professor de letras da UFRJ. E ele cita exemplos: A rua dos Barbonos, por exemplo, aparece em inúmeras histórias do escritor, inclusive em “Dom Casmurro”.
Machado tinha 27 anos. Era autor, até então, de algumas peças de teatro e da coletânea de poemas “Crisálidas” (1864). Levaria mais seis anos para lançar o primeiro romance, “Ressurreição”, e mais 15 para iniciar a grande fase de sua carreira, com “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Mas não seria o ciúme patológico de José Mariano a inspiração para o Bentinho de “Dom Casmurro” (1899), atormentado pela dúvida de Capitu ser ou não fiel a ele?
Na noite do crime, Mariano foi sozinho ao teatro. Ao voltar para casa, julgou que Martiniano, o vizinho, estivera ali minutos antes e, em fúria, matou a mulher. Também Betinho certa vez vai à ópera enquanto Capitu permanece em casa. Quando chega, encontra Escobar, o suposto amante. Helena, a vítima, é outro eco encontrado em Machado: é o nome da protagonista e do próprio romance publicado por ele em 1876.