A estudante Victória Nascimento, de 20 anos, do Rio de Janeiro, alcançou a nota mil na prova de redação do Enem 2023, utilizando a cultura popular como repertório no desenvolvimento do tema: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Para elaborar a proposta, ela citou inicialmente a canção “Se eu largar o freio”, interpretada pelo cantor Péricles.
Confira um trecho da letra: “A pia tá cheia de louça/ O banheiro parece que é de botequim/ A roupa toda amarrotada/ E você nem parece que gosta de mim.”
Embora o artista tenha comentado em entrevista ao programa Roda-viva, na TV Cultura, que a letra da canção não identifica o gênero, pode-se pressupor que o eu lírico sente-se abandonado pela mulher porque ela não realiza as tarefas domésticas. Diante desse fato, Victória expôs que o trabalho das mulheres continua invisível e, muitas vezes, limitado aos afazeres da casa, revelando o machismo ainda tão presente na sociedade.
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Nos parágrafos seguintes, a estudante citou a intelectual feminista Simone de Beauvoir e o filósofo John Rawls. Com a frase “não se nasce mulher, torna-se mulher”, ela demonstrou no desenvolvimento que ser mulher é uma construção social e citou o filósofo para destacar a responsabilidade do Estado em garantir a igualdade de oportunidades.
Desde 2018, ela realizava o exame como treineira, depois continuou fazendo a prova mesmo com a conclusão do Ensino Médio em 2020. Dessa forma, seu foco manteve-se em aperfeiçoar a escrita, garantindo um bom desempenho para ingressar no curso de Medicina.
Para a estudante, citar música na prova não é novidade. Em 2021, com o tema “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil” exigido na prova de redação, ela alcançou a nota 960, citando no texto um dos versos da canção “Ser humano”, interpretada por Zeca Pagodinho. Veja o texto disponibilizado pelo site Guia do estudante:
Mesmo que a jovem perceba certa insegurança dos vestibulandos em utilizar repertórios considerados “menos eruditos” ou de cultura popular, ela reforça que “o Enem aborda temas sociais relevantes e brasileiros, e não há nada mais social e brasileiro que a cultura popular”.
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