Uma performance de um artista no Museu de Arte Moderna de São Paulo em 2017 torna-se motivo de comoção e violência. Enquanto apresentava uma releitura da obra Bichos, de Lygia Clark, na qual punha o próprio corpo nu à disposição do espectador para ser manipulado, Wagner Schwartz teve seu corpo (sua obra) relado por uma criança, a filha de uma grande amiga sua, que estava no recinto no momento da apresentação. Um vídeo do momento foi capturado, retirado completamente de seu contexto e disseminado internet afora. Rapidamente uma enxurrada de ódio, violência e selvageria passou a ser direcionada ao artista. Nem perto de poucas foram as ameaças de morte que Schwartz sofreu. A partir daí, nasce o livro “A nudez da cópia imperfeita”.
A situação toda compõe uma triste parábola: o Brasil odioso, odiento, marcadamente fanático que passamos a ser a partir de 2016 já se afigurava ali, na inocente sala de um museu. O corpo masculino reduzido à impotência, a arte dessacralizada, tornada objeto prosaico, uma série de fatores identificados com a descolonização do pensamento dominante, geraram uma reação coletiva criminosa, marcada pela perseguição, pelo assédio psicológico, por ameaças explícitas nas redes sociais e, principalmente, pela desenfreada repetição de um covarde encadeamento de fake news em veículos e grupos identificados com a extrema direita brasileira — que até mesmo a morte do artista elucubravam.
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Neste relato visceral e experimental, no qual se fundem instalação e texto, performance e palavra, obra e autobiografia, Wagner Schwartz oferece um testemunho inigualável do artista vitimado pelo autoritarismo, pela sombra perene da violência, por um engenhoso e dissimulado mecanismo de censura que mesmo nos espaços (e países) ditos democráticos vigem.
Sobrevivente em mais de um sentido do regime autoritário que tomou de assalto o Brasil a partir de 2016, Wagner Schwartz demonstra, neste romance sem paralelos, a formação do modo-de-ser da arte e do artista que desejam, ainda que resfolegantes, sufocados, oprimidos, sempre mais um sopro de vida.
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Sobre o autor:
Wagner Schwartz nasceu em Volta Redonda, Rio de Janeiro, em 1972 e é formado em letras. Autor de 13 performances desde 2003, recebeu, entre outros, o prêmio APCA 2012 de “Melhor projeto artístico” por Piranha, e foi selecionado pelo programa Rumos Itaú Cultural Dança em 2000, 2003, 2009 e 2014. Foi curador da 10ª Bienal Sesc de Dança, colaborador internacional do Festival Contemporâneo de São Paulo e artista residente em 2016, 2017 e 2018 do Festival Internacional de Teatro de Curitiba. Trabalhou como intérprete para o coreógrafo Rachid Ouramdane, para o diretor de teatro Yves-Noël Genod, para o artista Pierre Droulers e para os cineastas, Judith Cahen e Masayasu Eguchi.
Em 2018, seu primeiro livro de ficção, Nunca juntos mas ao mesmo tempo, traduzido para o francês com a dramaturga Béatrice Houplain, foi publicado pela Editora Nós. Em 2021 tornou-se residente da Cité Internationale des Arts, premiado pelo programa Fundação Daniel e Nina Carasso, e em 2022, foi convidado pela ICORN (Rede Internacional de Cidades de Refúgio) para participar da residência PEN International, na Antuérpia (PEN Vlaanderen) — apoiado por uma subvenção da Open Society Foundations.
Ficha Técnica
Título: A nudez da cópia imperfeita
Autor: Wagner Schwartz
Projeto gráfico: Bloco Gráfico
Tipo: brochura
Páginas: 336 pp
Tamanho: 15 x 22 cm
ISBN: 978-85-69020-88-2
Preço: R$ 69,00
Editora: Nós