Harry Martinson foi um escritor e poeta sueco, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1974. Ele nasceu a Jämshög, 6 de maio de 1904 – Estocolmo, 11 de fevereiro de 1978, e era originário da província de Blekinge no sudeste da Suécia. O seu prêmio Nobel foi dado juntamente com o seu compatriota Eyvind Johnson, o que constituiu uma escolha controversa na altura, uma vez que ambos estavam no júri e Graham Greene, Saul Bellow e Vladimir Nabokov eram os favoritos para o prémio desse ano.
O NotaTerapia separou os 3 melhores poemas de Harry Martinson. Confira:
CAVALO E CAVALEIRO
Centenas de gerações
tornaram nobre o cavalo árabe
ao serviço de muitos príncipes [degenerescentes.
Por vezes também as caudas que se agitaram [por esses déspotas
acabaram por lançá-los no precipício,
enquanto o árabe que carregava o tirano
retesava os cascos no solo e estacava à borda do abismo.
Assim são os cavalos e outros animais nobres.
Por isso Goya e outros grandes artistas
nos seus retratos de cavaleiros, maior atenção
consagraram ao cavalo
que ao pouco importante ocasional [cavalgador,
fosse ele um grosseirão, ou um refinado,
um principiante da sela
ou um veterano dela.
O sonho de reunir com segurança cavaleiro [e cavalo
acabou por tornar-se centauro,
cavaleiro que é sua própria montada.
Esse do cavaleiro o desejo sonhado
de não ser nunca derrubado.
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A folhagem vespertina do final do verão se
escurece, o vento caminha
com mocassins de nuvens pela ramagem do tempo.
Aproveites.
Se afugentas a melancolia, o tempo a entrega
em seu copo de plástico,
um cálice irreconhecível,
nova amargura sem sabor,
um frio desespero que se cola furtivamente
às tardes de tranquilizantes.
Devia ter ido a um balneário, tu dizes.
Devias ter fugido de ti mesmo a outro
homem, distinto.
Palavras vãs. Ainda que te apresses e saias
rapidamente,
perderás todos os teus trens,
cai o crepúsculo sem encanto, simplesmente
anoitece.
Por que abandonaste as dores que, no entanto,
tinham rostos próprios?
Não, querias ter coisas novas de todo
jei-to,
também os cadáveres deveriam ser novos,
mortos recém mortos.
Quando agora andas perdido, nem sequer sabes o
que é andar perdido,
teu vazio pesa
até ao ponto em que o avião tem
dificuldades para decolar.
Tu simplesmente segues perseguindo uma alegria
que desejas sem sombra.
Mas sem dores não há eixo ao qual ser fiel,
sem dores que lhe deem profundidade não há
verdadeiro mar,
só há uma borrifante prolongação até
o nada,
onde tu estás fazendo a cama vazia no
vazio.
Oh, se nos libertássemos de ti, vazio, que sempre
apareces abrindo caminho às cotoveladas,
de ti, coração do vazio, duro como uma pedra,
que unicamente comes alegria e com alegria
a consomes,
depois nada mais.
(p. 204-205)
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***
Pelo Atlântico Norte viajou dezessete anos
ondulando uma garrafa
com uma mensagem como passageira.
Frequentemente se assemelhava, em silêncio,
a um gigantesco vapor de Southampton.
Encalhou sem que a houvessem lido e ficou
congelada
entre as geleiras da Costa do Labrador. (p. 222)
Fontes
https://hotblog7faces.blogspot.com/2019/08/um-poema-de-harry-martinson.html
https://leiturasnobel.blogspot.com/2019/09/poemas-de-luz-e-escuridao-de-harry.html