Foi inaugurada em 2020 no complexo do Arquivo Geral da cidade de Malmö, no sul da Suécia, a primeira biblioteca de livros censurados do mundo denominada Dawit Isaak. O nome é uma homenagem ao jornalista e autor preso sem julgamento desde 2001 na Eritreia, país localizado na África, por ter publicado críticas ao regime.
O acervo conta com obras antigas e contemporâneas que foram proibidas em algum momento em diferentes lugares do mundo, entre elas estão também músicas e peças teatrais. A intenção é reunir nos dias atuais os livros censurados ou aqueles que sofreram qualquer tipo de proibição, inclusive, que tenham sido queimados no passado. Cabe lembrar que não somente os livros foram censurados, em geral, os autores também eram ameaçados, presos ou exilados.
Atualmente a biblioteca possui 1.600 itens e pretende ampliar com novas sugestões. Cada livro apresenta informações sobre o motivo da censura, o período e o local. Além disso, há material disponível sobre liberdade de expressão, censura e democracia.
Entre os exemplares estão títulos como Versos Satânicos de Salman Rushdie, por ter sido considerado afrontoso ao profeta Maomé. Em 1989, o autor foi condenado à morte pelo aiatolá Khomeini, líder religioso do Irã. Já O Touro Ferdinando, de Munro Leaf, foi proibido no regime de Franco na Espanha, enquanto na Alemanha de Hitler todos os exemplares foram queimados.
O Alquimista e outros livros de Paulo Coelho também integram a lista. Em 2011, a editora Caravan Books teve a licença cassada e foi proibida de publicar no Irã porque na época o diretor foi considerado inimigo do governo. Porém, se os livros fossem publicados por outras editoras iranianas não haveria problemas.
Cem anos de Solidão de Gabriel García Márquez que trata de questões políticas de forma alegórica foi proibida na Colômbia e só foi permitida a circulação após o autor conquistar o Prêmio Nobel de Literatura, em 1982. Além disso, o mesmo livro foi censurado na Rússia, Irã e, recentemente, no Kuwait por conter “cenas explicitamente sexuais”. Outros nomes latino-americanos também estão presentes como a chilena Isabel Allende com A Casa dos Espíritos, o guatemalteco Miguel Ángel Asturias com Senhor Presidente, entre outros.
Há também aquelas obras que já foram proibidas por atacarem a moral e os bons costumes, escandalizando a sociedade na época. Consideradas subversivas, profanas ou obscenas como, por exemplo, Lolita (1955), de Vladimir Nabokov foi censurada em vários países, inclusive, no Brasil.
A obra 1984, de George Orwell, lançada em 1948, tem como tema uma crítica aos regimes totalitários, foi censurada nos EUA e União Soviética. A trilogia Cinquenta Tons de Cinza, de E.L. James, foi proibida em vários lugares pelo conteúdo sexual.
Harry Potter, de J.K.Rowling, foi censurado em regiões dos EUA e em algumas escolas dos Emirados Árabes Unidos por ser incentivador da bruxaria e do ocultismo. Outras escolas da Inglaterra, do Canadá e da Nova Zelândia também tentaram proibir sua circulação.
Na área da música e do teatro, a censura atacou e ainda ataca grupos teatrais como, por exemplo, Belarus Free Theatre ou o musical Hair, do grupo Parents Music Resource Center, pelas letras consideradas inapropriadas.
A cadeira vazia no fundo da biblioteca é simbólica, pois aguarda o retorno de Dawit Isaak à Suécia. A Anistia Internacional afirma que Isaak é um “prisioneiro de consciência” e defende sua liberdade por ser uma prisão arbitrária e política.