Ilana Eleá, poeta e escritora carioca, encontrou na literatura uma forma de superar a depressão com a ideia de criar uma biblioteca infantil no jardim de casa, em Estocolmo, na Suécia.
O local possui uma área de mil metros quadrados com uma pequena réplica de uma casa sueca dos anos 20. Nesse espaço literário, são distribuídas mesas com livros e bolos e, nos dias mais frios, é feita uma fogueira.
Todas as quartas-feiras a biblioteca é aberta para pais e crianças a partir de dois anos de idade. Mais tarde, há uma pausa para o café, que os suecos chamam de “fika”. Após, começam as leituras de livros em voz alta e as performances de música realizadas pelas crianças ou pelos pais. Ilana, que é mãe de duas crianças, conta que o objetivo é promover a leitura de livros entre crianças suecas e brasileiras e permitir a interação entre pais e filhos.
“A proposta da biblioteca é oferecer um espaço de convivência literária aqui no bairro. Temos atividades semanais, e nosso acervo é diversificado. Mas o enfoque é claro: livros de literatura infantil que tenham uma linguagem poética, que sejam ricos em metáforas, belamente ilustrados. E livros que abordem questões existencialistas, porque perguntas sobre a existência são fundamentais.”
A biblioteca, inaugurada em 2017, conta com um acervo de cerca de 200 livros e continua recebendo doações. A intenção é ampliar as atividades da biblioteca, que já recebe a visita de turmas escolares locais, e criar um acervo de obras infantis brasileiras.
Residente desde 2011 na Suécia, Ilana teve que lidar com diversos obstáculos como a língua, a nova cultura e o inverno rigoroso. Com doutorado em Educação pela PUC do Rio de Janeiro, ela dava aulas na universidade quando conheceu o marido sueco. Mesmo com o trabalho de pesquisadora da Universidade de Gotemburgo, o quadro de depressão se agravou e só foi superado com o auxilio do sistema sueco de apoio aos trabalhadores, que a incentivou a fazer algo que gostasse:
“A Suécia me salvou. O sistema de previdência sueco me ofereceu um mês de licença para ficar em casa, com salário pago, e a prescrição médica foi muito simples: fazer longas caminhadas, e apenas coisas que eu gostasse de fazer. Fiz as longas caminhadas, li muito, fui a eventos literários. E meu coração indicou que era isso que eu tinha que fazer: mudar a direção, mudar de área e trabalhar com literatura. Começar do zero. Quando eu voltei um mês depois, muito constrangida por ter que dizer que eu pediria demissão, depois de todo o tempo que investiram no meu tratamento, a médica na verdade me parabenizou. E disse, ‘vai ser apenas uma questão de tempo para que você seja novamente produtiva para a Suécia, e como uma cidadã feliz, que é o que queremos’”, contou a escritora em entrevista ao site.
Fonte: RFI