Após o suicídio de Virgínia Woolf, aos 59 anos de idade, foram descobertos os seus diários. Durante toda a vida, a escritora manteve cadernos de anotações com detalhes sobre sua vida, sua escrita e percepções do mundo. Esses diários foram lançados na Inglaterra em 1977, mas até hoje permaneciam inéditos no Brasil. Agora, mais de 40 anos depois, eles chegam por aqui. No original em inglês, abrange o período de 1915 a 1919. Na edição brasileira, vai até 1918.
Segundo matéria da Folha, a edição integral conta com cinco volumes, escritos entre 1915 e 1941, ano da morte de Virgínia Woolf. Uma seleção de trechos dos diários, “A Writer’s Diary” (diário de uma escritora), por exemplo, já havia sido publicado ainda em 1953 pelo marido de Woolf, Leonard. Para esta edição brasileira, a tradutora, Ana Carolina Mesquita, conta que cotejou o texto editado em 1977 por Anne Olivier Bell, com os manuscritos dos diários guardados na Berg Collection, em Nova York.
O NotaTerapia separou 5 pontos relevantes do que você pode descobrir nesses diários. Confira:
1- Criar enredos
Virgínia Woolf revela em determinado momento que tinha dificuldades em criar suas histórias. “I cannot make up plots” (“não consigo criar enredos”), diz a escritora inglesa (1882-1941) no volume três dos diários, na página datada de 5 de outubro de 1927. Essa reflexão sobre sua própria escrita pode nos dar o caminho que a autora fez para encontrar sua própria forma de escrever, o fluxo de consciência e as narrativas que se rompem da temporalidade tradicional.
2- Um mundo além do “vago e onírico”
O interessante dos diários é que são escritos por quem não tem como objetivo fazer arte. São relatos íntimos. Então, os textos dos diários situam Woolf numa realidade que nos aproxima dela não como escritora – mas como uma pessoa que escrevia. E isso serve de elemento para a melhor compreensão de sua obra. Podemos ver no diário uma escrita para além do “mundo vago e onírico” de seus romances —como ela mesma define em carta à amiga Madge Vaughan:
“(…) minha sensação atual é de que esse mundo vago e onírico (…) é o mundo que realmente me importa” .
3- Histórias do “grupo de Bloomsbury”
O mundo dos escritores e poetas da época também acaba emergindo de seus diários. Afinal, Woolf foi figura central no círculo de intelectuais da aristocracia inglesa conhecido como o “grupo de Bloomsbury” que incluía poetas, escritores, filósofos contestadores da moral puritana, defensores de novos comportamentos sociais, do acolhimento de sexualidades diversas e sensibilidades artísticas para além do seu tempo.
4- Fofocas de outros escritores
Esses detalhes são os mais interessantes: aquelas histórias que escapam, uma percepção qualquer do cotidiano. Algo que estranha, mas que pode significar alguma coisa como não significar nada. Por exemplo, em outro volume (o primeiro), enquanto toma chá no salão de um clube em Londres, avista no ambiente o escritor Aldous Huxley, do clássico “Admirável Mundo Novo (1932), e comenta:
“(…) Aldous Huxley e uma moça de veludo cinza estavam tendo o que parecia ser uma conversa particular”.
5- Muito de sua própria escrita e sua vida
E, claro, os diários também contém aquilo que a gente mais quer saber: informações interessantes sobre a técnica de escrita da autora, seu cotidiano, seus estados de espírito, sua condição psíquica, suas relações amorosas e de amizade. Tudo isso, e mais todo o seu ambiente social, inclusive parte da história da Inglaterra do começo do século XX são revelados nos diários que ela escreveu ao longo de toda a sua vida.
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