O nome do autor é Georges Perec e ele é um escritor francês que fazia parte de um grupo chamado Oulipo (Oficina de Literatura Potencial, na sigla em francês). Para quem não conhece, o Oulipo era um grupo de escritores, matemáticos e curiosos das letras e dos números que utilizava de técnicas de subtração para escrever seus livros. Eles acreditavam que tendo limitações para a escrita, a criatividade seria obrigada a encontrar soluções para essas barreiras e o resultado final seriam obras mais inventivas e imaginativas.
Foi partindo desse ponto que Perec, um dos mais famosos autores do grupo Oulipo, escreveu o romance O Sumiço, o primeiro escrito como parte do grupo. O romance é uma obra de quase 300 páginas no qual não se usa nem uma vez a letra E. Publicado em 1969, o livro é um marco na história da literatura experimental, que tem em Georges Perec (1936-1982) um de seus expoentes. Depois de quase cinco décadas desde seu lançamento, o romance ganhou a primeira tradução brasileira feita pela editora Autêntica, assinada por Zéfere, pseudônimo do poeta e tradutor mineiro José Roberto Andrade Féres, de 35 anos. Imagina que trabalheira deve ter dado essa tradução?
Segundo matéria do Globo, o tradutor trabalhou por oito anos para recriar na língua portuguesa os jogos verbais de Perec, seguindo a mesma regra estabelecida pelo autor: evitar a vogal E, a mais comum em francês e segunda mais comum em português, depois do A. Zéfere contou em entrevista que “O sumiço” segue a regra do “lipograma”, texto no qual se omite uma ou mais letras. A restrição ao E criou um desafio para o tradutor brasileiro desde o título: a versão literal do original “La disparition” seria “O desaparecimento”. Zéfere não pôde usar elementos básicos da língua, como a conjunção “e”, as preposições “de” e “em” ou os pronomes “ele”, “ela” e “você”.
De acordo com a editora Autêntica, em release da obra, “a inovação da obra não está, porém, apenas na falta da vogal, mas principalmente em fazer do desaparecimento da letra o próprio tema do livro e a lei maior à qual se deve toda a história”. Assim, Perec cria um mundo de letras, povoado por seres de letras, cujo destino depende também das letras, e, principalmente, do sumiço de uma delas. Esta mirabolante história de investigação policial, cheia de mistério, bom-humor, romances e reviravoltas, vai além de um enredo intrigante, voltando-se para o ato da escrita e os jogos de linguagem que apontam para a própria língua, o francês – mutilado, porém.
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