Roxane Gay é uma escritora norte-americana que ganhou notoriedade com o livro Má feminista: ensaios provocativos de uma ativista desastrosa e a obra de memórias Fome: uma autobiografia do (meu) corpo. Sua abordagem pungente e realista de questões do feminismo fez algumas pessoas gargalharem (senão de nervoso) na sua palestra TED “Confissões de uma feminista ruim”, uma emblemática apresentação de seu espírito criativo.
<p align="justify">Nascida em Omaha, Nebraska, numa família de descentes haitianos, Roxane Gay escreveu desde obras mais autobiográficas a histórias em quadrinhos como o World of Wakanda, um spin-off de Pantera Negra que escreveu junto com a Yona Harvey, tornando-as as primeiras mulheres negras a escreverem quadrinhos para a Marvel Comics. Além disso, é editora, roteirista, ensaísta e professora-visitante na Universidade de Yale.
Como todo bom escritor, Gay também é uma leitora prolífica. Na sua página no Goodreads e no Twitter, ela recomenda e aprecia algumas de suas leituras favoritas. Na longa lista de títulos, os quais, em sua maioria, ainda não foram publicados em português, surgem nomes como o da lista a seguir: os de mulheres que, assim como Gay, são de famílias que imigraram para o “primeiro mundo” e que possuem olhares ímpares sobre as questões de gênero e de raça em suas obras.
Seguem abaixo alguns dos títulos publicados em português com o aval da “feminista ruim”:
O caminho de casa, Yaa Giasi

O primeiro romance da escritora Yaa Giasi, já rendeu elogios à autora nos principais jornais norte-americanos em 2016. Nessa história primeiramente ambientada na Gana do século XVIII, duas meia-irmãs lidam com diferentes destinos: uma, casada com um inglês, habita o Castelo na Costa do Cabo; a outra, as masmorras do mesmo castelo, que divide com pessoas que, como ela, serão vendidas como escravas e mandadas para a América, onde seus descentes crescerão sob a escravatura.
Giasi nasceu em Gana, mas mudou-se para os Estados Unidos ainda com 2 anos de idade. Retornando ao seu país de origem já na idade adulta, a autora teve a ideia para o seu romance de estreia depois de visitar o próprio Castelo da Costa do Cabo. O livro mostra as consequências do comércio de escravos dos dois lados do Atlântico e como os quadros de servidão se inscrevam nas almas das duas nações.
Em entrevista à Marie Claire, Giasi conta um pouco algumas de suas motivações para escrever O caminho de casa, como a dificuldade que têm os afro-americanos de conhecer sua ancestralidade. Além disso, Yaa Giasi se propôs a abordar os difíceis aspectos da escravidão para os próprios africanos. Quando conheceu o castelo ganês que inspirou sua narrativa, a autora comenta: “O guia contou sobre esse envolvimento de diferentes grupos étnicos, que eram traídos ou vendiam as pessoas eles próprios. Essa parte da história, nós africanos, não gostamos pensar ou falar a respeito”. Para Giasi, o romance é uma forma de dar voz àqueles que não tiveram oportunidade.
Canção de ninar, Leïla Slimani

Quando Myriam, uma advogada franco-marroquina decide voltar a trabalhar depois de ter tido filhos, ela e seu marido decidem procurar por uma babá para seus dois filhos e que atenda às suas expectativas. Surge Louise: uma quieta, devotada e educada mulher que canta para as crianças, não reclama dos turnos estendidos e limpa com zelo o sofisticado apartamento da família em Paris. Mas à medida que a relação entre o casal e a “babá perfeita” vai se estreitando, o vínculo criado dá origem a grandes conflitos.
Também uma cidadã franco-marroquina, a escritora e jornalista Leïla Slimani lançou seu primeiro romance em 2013. Mas foi com seu terceiro livro, Canção de ninar, que tornou-se popular, tornando-a autora mais lida da França em 2016. Slimani, que já foi presa peso exército tunisiano em 2010 enquanto cobria os eventos da Primavera Árabe, hoje acredita que a ficção é a única forma verdadeira de liberdade.
Autora de personagens que são mulheres problemáticas e desagradáveis, Slimani falou à revista Prospect sobre a liberdade que encontra na sua escrita, sobretudo quanto a ser mulher. “Meu pai sempre me disse que nós só seremos iguais ao homens quando as pessoas considerarem que as mulheres têm tantas falhas quanto os homens. O fato de que nós sempre dizemos que mulheres são agradáveis, gentis e doces é prova de que nós estamos em desigualdade, porque as pessoas não querem olhar para o lado obscuro das mulheres. Eu acho que negar esse lado obscuro é uma forma de controlar as mulheres”, disse à revista.
O corpo dela e outras farras, Carmen Maria Machado

Carmen Maria Machado desmente alegremente as fronteiras arbitrárias entre realismo psicológico e ficção científica, comédia e horror, fantasia e fabulismo. Nessa estreia eletrizante e provocativa, Machado dobra o gênero para formar narrativas surpreendentes que mapeiam as realidades da vida das mulheres e a violência que são vistas em seus corpos.
Convidada da FLIP 2019, a escritora americana é neta de imigrantes cubanos e também atua como ensaísta e crítica de literatura. A obra O corpo dela e outras farras tem 8 contos cujo foco é o corpo feminino e é seu livro de estreia. Segunda a autora, que ministra aulas de literatura como artista-residente na Universidade da Pennsylvania, sua escrita “não tem forma, mas toma forma”.
Aqueles que perdemos, Sheena Kamal

Esse romance policial conta a história de Nora Watts, uma investigadora e pesquisadora que possui o talento de quase sempre dizer quando alguém está mentindo. Criada em difíceis condições, e sobrevivente de diversos tipos de abuso e de traição, Watts decide investigar o desaparecimento de uma adolescente e descobre difíceis cruzamentos entre a sua vida e da garota.
Sheena Kamal, caribenha radicada no Canadá, é formada em Ciência Política e foi agraciada com uma bolsa de estudos por seu ativismo pela garantia à moradia. Aqueles que perdemos é seu primeiro livro, que já conta com continuações na língua original. Apesar da música ser uma importante companheira no processo de escrita, Kamal afirma que a violência de gênero continua sendo o tópico que mais a importa. “Um dia eu gostaria de criar uma obsessão com algum tema mais feliz como ornitologia ou como atingir o Zen. Reze por mim para que isso aconteça antes que meu lado negro tome conta completamente”.
Arte da capa: Lilly Pulitzer
Roxane Gay: Brooklyn Magazine