Na obra de George Orwell somos transportados ao cotidiano daqueles que vivem trancafiados num regime totalitário e repressivo. Estamos diante de um Estado que nada deixa escapar ao seu controle, até mesmo os pensamentos das pessoas e os comportamentos indivuduais são observados e julgados como certos ou errados na perspectiva do partido. The big brother is watching you, ele está presente em todos os lugares, em cartazes e na consiência de cada um.
Ao longo da trama acompanhamos a história de Winston Smith, um funcionário do Ministério da Verdade, que trabalha na falsificação de documentos e da literatura para que o partido esteja sempre certo. Uma poderosa e harmoniosa máquina funciona com o objetivo de controlar o passado, o presente e o futuro. O grande segredo do domínio é fazer com que as pessoas não pensem e não questionem o passado, assim, tudo que o partido disser no presente será encarado como a verdade absoluta.
É sem dúvida fascinante a forma com que Orwell narra a história, palavras fáceis dão origem a uma literatura simples e acessível, o que de forma alguma diminui a densidade e o impacto que a obra gera no leitor. Sim, o objetivo é chocar, é mostrar o futuro negro que nos espera, é mostrar que não haverá um final feliz.
Nós, muito acostumados à roteiros hollywoodianos e visões otimistas do mundo que nos rodeia, não podemos deixar de nos decepcionar (talvez esta não seja a palavra certa) com o desfecho da história. Certo é que Smith não é um herói da mitologia grega, é apenas um ser humano comum que em certo momento começou a questionar a realidade que o rodeava. E exatamente por isso foi duramente reprimido pelo partido, sofreu diversas torturas no ministério do amor até que seu pensamento e sua consiência fossem moldadas e dominadas de acordo com a vontade do partido e para a conveniência deste.
É absolutamente impossível ler 1984 sem parar para refletir na própria sociedade em que vivemos. É impossível ler a obra de forma fria, distante e objetiva. É impossível não reconhecer o magnífico trabalho do autor de induzir a dúvida e forçar o pensamento do leitor diante das barbaridades executadas por um regime totalitario na sede de puro poder e domínio. A meu ver a maior lição passada por Orwell na obra é justamente esta: a necessidade de refletir e questionar os fatos e as verdades que nos rodeiam. Por isso, não vamos ignorar a voz do grande escritor, vamos aprender com ele e ter sobre a sociedade e governos um olhar mais crítico.