Travessuras de Minha Menina Má – livro II, de Otávio Bravo, é um romance livremente inspirado no romance quase homônimo de Mario Vargas Llosa: Travessuras da Menina Má. Se no primeiro volume de Bravo, não chegamos a conhecer a tal menina, mas acompanhamos a infância, adolescência e começo da vida adulta de Victor, seu personagem principal, neste volume II não conhecemos Duda, a tal menina má, como acompanhamos toda a relação dela com Victor, desde o primeiro momento, do apaixonamento, até um possível fim em um hotel na Cidade do Cabo. Mas será mesmo o fim?
O NotaTerapia separou as melhores frases da obra. Confira:
Foi neste momento que Deus deitou graças à rota do amor e, acertando-lhe o rumo, mo revelou novamente.
Sem nenhum motivo especial, meus olhos se desviaram à esquerda e fitaram, de esguelha, a jovem que estava rabiscando alguma coisa na pequena mesa de anotações contraposta aos caixas eletrônicos.
Não sei se, a olhos alheios, era mulher bonita. Mas, aos meus, haveria mais nenhuma tão linda no Universo.
Tinha jeito e trajes de menina, com ar brejeiro e roupas despojadas. Usava blusa branca de malha com estampa em cores vivas, calça jeans desbotada e sapatilha de tecido com solado de corda e trazia uma mochila de estudante ajeitada num dos ombros, da qual pendia o fecho do zíper em forma de macaquinho.
Parecia mesmo bem jovem, quase como se tivesse recusado deixar a adolescência, mas, ao mesmo tempo, era Laura de Petrarca, Isabel Garcilaso e Matilde de Neruda. Tinha traços de dona do universo, com lábios rosados, mádicos e carnudos, a pedir beijo, e olhos de cor indeslindável, que eram verdes e eram mel, como gotas caídas de colmeia no meio do oceano, e brilhavam tal qual turmalina cintilante, a iluminar tudo à sua volta.
Estava sozinha no mundo.
Era sozinha no mundo.
Mas então à expressão de dó e solidariedade se somara a ponta de um sorriso quase imperceptível, como se ela revelasse que, em meio à trágica narrativa, recebia boa notícia.
Era coisa escondida, mas, para mim, os sorrisos de Maria Eduarda eram regalo constante, e, por discretos ou recatados que fossem, eu os percebia sempre.
Percebera aquele.
E então já sabia que a vida tinha desviado o rumo e seguia na direção de onde o amor estava.
Havia mais de uma década que vivia em descrença permanente, como se a vida fosse linha da antipoesia da felicidade de Parra, desejando crer em alguma coisa, mas não crendo porque crer é crer em Deus e ele me faltara. Então só o que fazia era encolher os ombros e seguir em frente. Deus me ferira, nada lhe devia. Tinha fé nenhuma e alegria pouca.
E não havia criança maior do que um homem apaixonado.
Mesmo quando não quer pensar em nada e me desligar do mundo, cá está você! Comecei a ler um livro em que há um personagem que é a sua cara.
Ninguém desaparece quando ama – disse.
Um, se esforce. Boas coisas acontecem àqueles que trabalham duro.
Dois, se não é seu, não pegue. se é seu, defenda; se quer que seja seu, lute.
E três, aos bravos, honras.; aos estúpidos, a desgraça.
Por todo o resto da vida, nunca me seria possível saber o quanto daquele discurso era verdadeiro e o quanto era fantasioso, a pontuar triste fábula concebida apenas para me amolecer o coração. Eu sempre preferiria acreditar que parte daquilo havia realmente acontecido, não só porque a alternativa a faria messalina, mas também porque o futuro me mostraria, mais de uma vez, que a menina má era menos fria e tirana do que enigma complexo.
Sofria a menina má, e era sempre. Queria, mas não lhe esquecia a tragédia.
Fonte: Travessuras de Minha Menina Má, de Otávio Bravo