O diário de Anne Frank é, sem dúvidas, o registro biográfico (e, porque não, literário) mais famoso da Segunda Guerra Mundial. O livro em que escreveu suas memórias tem mais de 200 páginas repletas da subjetividade de uma adolescente entre os seus 13 e 15 anos e tornou-se um best-seller mundial. Entretanto, de acordo com novas descobertas da Fundação Casa de Anne Frank de Amsterdã, páginas ocultas do diário nos apresentam a uma Anne ainda mais liberal do que poderíamos imaginar – ou, pelo menos, mais do que sua família aguentaria reconhecer.
Escritos do dia 28 de setembro de 1942, produzidos menos de três meses depois de sua família ter encontrado um esconderijo em Amsterdã, eram um mistério para os pesquisadores, que a tentaram decifrar por mais de 7 décadas. Somente agora, com ajuda de uma sofistifcada tecnologia digital, foi possível decifrar o que havia sido escrito por Anne, então com 13 anos, e coberto por papel pardo para que sua família não lesse. As páginas decifradas continham piadas inocentes sobre sexo e alguns comentários sobre prostituição, métodos contraceptivos para mulheres e até sua hipótese acerca da homossexualidade do próprio tio.
“Qualquer um que ler as passagens que agora foram descobertas não conseguirão esconder um sorriso”, afirma Frank van Vree, diretor do Instituto Holandês de Estudos de Holocausto e Genocídios. “As piadas ‘sujas’ são clássicas entre crianças em crescimento. Elas deixam claro que Anne, com todos os seus dons, era acima de tudo também uma garota comum”.
Imaginando como ela responderia se alguém a perguntasse sobre sexo futuramente e como teria que providenciar uma educação sexual, Anne escreveu sobre relações sexuais, ciclos menstruais e prostitutas. Em um momento, cita um relato de seu pai sobre uma viagem à Paris, antes da guerra, para exemplificar seu entendimento sobre os desejos de homens e mulheres. A adolescente também sugere que seu tio materno Walter “não era normal” por não gostar de mulheres como outros homens.
“Vou usar essa página estragada para escrever piadas ‘sujas'”, redigiu ela em uma das folhas com um punhado de frases riscadas. No papel, anotou quatro piadas que conheceu das conversas que ouvia entre seus parentes e a outra família que viveu escondida no anexo secreto de uma casa em Amsterdã.
Sobre a menstruação, compartilha o que descobriu: “É sinal de que uma menina está pronta para ter relações com um homem. Mas isso não se faz antes do casamento. Depois, sim. Também se pode decidir [a partir de então] se se deseja ter filhos ou não. Se a resposta for sim, o homem se deita sobre a mulher e deixa sua semente na vagina dela. Tudo acontece com movimentos ritmados”. Quando o casal decide evitar filhos, “a mulher toma medidas internas e isso ajuda”. “Pode falhar, é claro, mas se você realmente quer filhos, às vezes não é possível. O homem gosta dessas relações e as deseja; a mulher um pouco menos, mas também”.
Para Ronald Leopold, diretor do museu Casa de Anne Frank, as páginas “nos trazem mais próximos à menina e autora Anne Frank”. Especialistas no diário afirmam que o texto inédito, quando estudado em conjunto com o resto do diário, nos revela mais sobre o aprimoramento de Anne como escritora do que sobre seu interesse em sexo. Leopold diz que as palavras são similares a outras passagens que tratam do assunto e que já foram publicadas