“Sapo não pula por boniteza,
Mas porém por precisão.”
Epígrafe do livro, um provérbio capiau
A Hora e a Vez de Augusto Matraga é um conto de João Guimarães Rosa contido em sua obra Sagarana, lançada originalmente em 1946. Trata-se da história de Nhô Augusto, um homem poderoso da região que, por mal uso de dinheiro, maus tratos a seus empregados e conhecidos próximos e intempéries do destino, acaba por perder tudo: mulher, dinheiro, posses. Um dia é resgatado por um casal de pretos e ali, em sua recuperação, passa por um período em que decide mudar de vida e, quem sabe, conquistar uma vaga no céu após a morte. A todo o momento a personagem, no momento em que busca sua salvação, diz: “Cada um tem sua vez, e a minha hora há-de chegar”. Entretanto, como (não) se sabe, é impossível prever a vida, em suas voltas e reviravoltas. O que é exatamente “chegar sua vez”? É disto que o conto trata, é nisto que passeia Rosa.
Esta edição, publicada pela Nova Fronteira em 2009, o conto foi lançado sozinho, sem os demais da obra, com o objetivo de espalhar as obras de Guimarães Rosa poucas vezes publicadas no Brasil. O NotaTerapia separou as melhores frases da obra. Confira:
Matraga não é Matraga, não é nada.
Era fim de outubro, em ano resseco. Um cachorro soletrava, longe, um mesmo nome, sem sentido. E ia, no alto do mato, a lentidão da lua.
Gostava dela, muito…Mais do que ele mesmo dizia, mais do que ele mesmo sabia, de maneira que a gente deve gostar. E tinha uma força grande, de amor calado, e uma paciência quente, cantada, para chamar pelo seu nome.
Sorte nunca é de um só, é de dois, é de todos…Sorte nasce cada manhã, e já está velha ao meio-dia…
Quando chega o dia da casa cair (…) é um dia de chegada infalível, – o dono pode estar: de dentro, ou de fora. É melhor de fora.
Para quem não sai, em tempo, de cima da linha, até apito de trem é mau agouro.
Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa mais a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria…Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua.
ele não guardou mais poder de espantar a tristeza. E, com a tristeza, uma vontade doente de fazer coisas mal-feitas, uma vontade sem calor no corpo, só pensada: como que, se bebesse e cigarrasse, e ficasse sem trabalhar nem rezar, haveria de recuperar sua força de homem e seu acerto de outro tempo, junto com a pressa das coisas, como os outros sabiam viver.
E tudo foi bem assim, porque tinha de ser, já que assim foi.
Quando o coração está mandando, todo tempo é tempo!
Cantar, só, não fazia mal, não era pecado. As estradas cantam. E ele achava muitas coisas bonitas, e tudo era mesmo bonito, como são todas as coisas, nos caminhos do sertão.