A Transcendência do Ego, obra filosófica do autor, foi escrita em 1934, publicada em 1936, anos antes da publicação do já clássico O Ser e o Nada, que firmaria Sartre na escola existencialista. Tentar traduzir o conteúdo deste complexo pensamento, principalmente de A Transcendência do Ego, se torna tarefa das mais árduas, pois, no caso, tudo que se tem é a reflexão filosófica de Sartre que, provavelmente, pode não suportar ao gênero resenha, de qualquer forma tento o esforço.
Em linhas gerais, o que faz Sartre é negar a ideia kantiana de que há um “eu” na consciência. Para isso, ele monta uma ontologia do eu, ou ego, para dizer que ele não está em nenhum lugar no homem, nem na forma nem na matéria da consciência, mas somente do lado de fora: no mundo. Leia mais AQUI!
O NotaTerapia separou as melhores frases da obra. Confira:
Nós gostaríamos de mostrar aqui que o Ego não está nem formalmente nem materialmente na consciência: ele está fora, no mundo; é um ser do mundo, como o Ego do outro. (p. 13)
O Eu que encontramos em nossa consciência é possibilitado pela unidade sintética de nossas representações ou será ele que unifica, de fato, as representações entre si? (p. 17)
A consciência não pode ser demarcada (como a substância de Spinoza) senão por si mesma. Ela constitui portanto uma totalidade sintética e individual totalmente isolada de outras totalidades do mesmo tipo e o Eu só pode ser evidentemente uma expressão (e não uma condição) dessa incomunicabilidade e dessa interioridade das consciências. (p. 22)
Todos os resultados da fenomenologia ameaçam ruir se o Eu não for, tanto quanto o mundo, um existente relativo, significa dizer, um objeto para a consciência. (p. 25)
A espontaneidade do Ego se escapa a si mesma, já que o ódio do Ego, embora não possa existir por si só, possui apesar de tudo uma independência em relação ao Ego. De modo que o Ego é sempre sobrepassado por aquilo que produz, mesmo que, de outro ponto de vista, ele seja aquilo que produz. Daí os assombros clássicos tais como: “Eu fui capaz de fazer isso?” “Eu pude odiar meu pai?”
O ódio é um estado. E com esse termo tentei exprimir o caráter de passividade que lhe é constitutivo. Sem dúvida, dir-se-á que o ódio é uma força, um impulso irresistível etc. Mas a corrente elétrica ou a queda d’água também são forças temíveis: isso elimina minimamente a passividade e a inércia de sua natureza? Daí receberiam eles menos sua energia de fora?
O amor-próprio é o amor de si mesmo, e de todas as coisas para si; ele torna os homens idólatras de si mesmos, e os tornaria tirano dos outros se a fortuna lhes desse o meio; ele jamais repousa fora de si, e não se detém nos sujeitos alheios senão como abelhas sobre as flores, para tira deles o que lhes é próprio. (p. 33)
Edição: Editora Vozes, 2013