Há poemas que se eternizam. Inesquecíveis, eles não só marcam uma época, como perpetuam-se pelo tempo. Como disse Italo Moriconi a respeito destes grandiosos poemas, “sua beleza é aventura de leitura para a vida inteira”.
Pensando nisso, o NotaTerapia selecionou 8 trechos dos mais consagrados poemas da literatura brasileira do século XX que, por serem os melhores, são imortais.
Confira:
1- Psicologia da composição, de João Cabral de Melo Neto
É mineral o papel
onde escrever
o verso; o verso
que é possível não fazer.
São minerais
as flores e as plantas,
as frutas, os bichos
quando em estado de palavra.
É mineral
a linha do horizonte,
nossos nomes, essas coisas
feitas de palavras.
É mineral, por fim,
qualquer livro:
que é mineral a palavra
escrita, a fria natureza
da palavra escrita.
Leia o poema completo AQUI
E leia AQUI os 12 melhores trechos de O Auto do Frade, também de João Cabral de Melo Neto
2- Antiode, de João Cabral de Melo Neto
Poesia, não será esse
o sentido em que
ainda te escrevo:
flor! (Te escrevo:
flor! Não uma
flor, nem aquela
flor-virtude – em
disfarçados urinóis.)
Flor é a palavra
flor, verso inscrito
no verso, como as
manhãs no tempo.
Flor é o salto
da ave para o vôo;
o salto fora do sono
quando seu tecido
se rompe; é uma explosão
posta a funcionar,
como uma máquina,
uma jarra de flores.
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3- A máquina do mundo, de Carlos Drummond de Andrade
“O que procuraste em ti ou fora de
teu ser restrito e nunca se mostrou,
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
e a cada instante mais se retraindo,
olha, repara, ausculta: essa riqueza
sobrante a toda pérola, essa ciência
sublime e formidável, mas hermética,
essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular,
que nem concebes mais, pois tão esquivo
se revelou ante a pesquisa ardente
em que te consumiste… vê, contempla,
abre teu peito para agasalhá-lo.”
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E assista AQUI 15 vídeos de poemas de Drummond lidos por diversos artistas
4- Uma faca só lâmina ou Serventia das ideias fixas, de João Cabral de Melo Neto
Assim como uma bala
enterrada no corpo,
fazendo mais espesso
um dos lados do morto;
assim como uma bala
do chumbo mais pesado,
no músculo de um homem
pesando-o mais de um lado
qual bala que tivesse
um vivo mecanismo,
bala que possuísse
um coração ativo
igual ao de um relógio
submerso em algum corpo,
ao de um relógio vivo
e também revoltoso,
relógio que tivesse
o gume de uma faca
e toda a impiedade
de lâmina azulada;
assim como uma faca
que sem bolso ou bainha
se transformasse em parte
de vossa anatomia;
qual uma faca íntima
ou faca de uso interno,
habitando num corpo
como o próprio esqueleto
de um homem que o tivesse,
e sempre, doloroso,
de homem que se ferisse
contra seus próprios ossos.
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5- “O céu jamais me dê a tentação funesta”, de Jorge de Lima
Despi-me de outros bens, de glória mais modesta:
reserva-me por fim a minha pobre testa
confundida com a pedra, em meio da floresta.
Que doces olhos têm as coisas simples e unas
onde a loucura dorme inteira e sem lacunas!
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6- Balada, de Mário Faustino
Jogou-se contra um mar de sofrimentos
Não para pôr-lhes fim, Hamlet, e sim
Para afirmar-se além de seus tormentos
De monstros cegos contra um só delfim,
Frágil porém vidente, morto ao som
De vagas de verdade e de loucura.
Bateu-se delicado e fino, com
Tanta violência, mas tanta ternura!
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7- Pátria minha, Vinicius de Moraes
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
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8- Poema sujo, de Ferreira Gullar
Do corpo. Mas que é o corpo?
Meu corpo feito de carne e de osso
Esse osso que não vejo, maxilares, costelas,
flexível armação que me sustenta no espaço (…)
fazendo o sangue que faz a carne e o pensamento
e as palavras
e as mentiras
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[Os poemas foram retirados do livro Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século, organização de Italo Moriconi, Ed. Objetiva, 2001]