Apesar de ter viralizado recentemente nas redes sociais a notícia de que a Suécia iria reduzir o uso de tecnologia digital nas salas de aula e retomar o uso de livros impressos, especialmente nas séries iniciais, a decisão não é exatamente uma novidade.
A resolução, na verdade, foi anunciada em dezembro de 2022 pela então ministra Lotta Edholm. Edholm escreveu, em um artigo no jornal “Expressen”, que a educação 100% informatizada “foi uma grande experiência”, mas que “houve uma postura acrítica [do governo anterior] de considerar a tecnologia necessariamente boa, independentemente do conteúdo”.
A Suécia, país que desde a década de 1990 buscou implementar uma educação 100% digital nas escolas, deu esse passo atrás após estudos indicarem uma queda na compreensão de leitura entre os estudantes, além de alertas de especialistas sobre os riscos do uso excessivo de telas para o desenvolvimento cognitivo de crianças.
Segundo o governo sueco, o foco é em restaurar práticas tradicionais de ensino, como a leitura em papel e a escrita manual, que demonstraram resultados mais eficazes na aprendizagem.
Em uma compilação de pesquisas sobre leitura, a Agência Nacional Sueca para a Educação concluiu que não basta apenas imprimir as atividades em um papel A4: é preciso usar o livro físico, para que os estudantes aprendam, por exemplo, a localizar uma informação enquanto folheiam as páginas. Edholm cita ainda outro estudo, apresentado por essa mesma agência, o qual aponta que, com a leitura digital, os alunos tendem a “passar os olhos” pelos textos mais rapidamente.
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Apesar do recuo, a ideia não é abandonar completamente a tecnologia nas escolas. O objetivo é encontrar um equilíbrio entre o digital e o impresso, priorizando o uso da tecnologia em fases mais avançadas da educação, quando os alunos já desenvolveram competências básicas de leitura, interpretação e escrita.

Em 2024, ao se deparar com um livro de verdade de matemática pela primeira vez, uma criança avalia que no livro “há mais explicações. Não tínhamos isso no laptop. O que pode tornar mais difícil é que agora nós mesmos temos que ler. Antes, o computador falava os exercícios em voz alta”.
A medida reacendeu o debate global sobre os impactos das telas no aprendizado e levantou questionamentos sobre os rumos da educação digital em outros países.
Segundo Rafael Rocha Lopes, colunista do O Correio do Povo, Holanda e Áustria, já teriam feito movimentos parecidos, enquanto a UNESCO, por sua vez, alerta para que a implementação da tecnologia nas escolas seja baseada em evidências pedagógicas, e não em modismos ou pressões mercadológicas.
No Brasil, vimos inúmeras administrações municipais dando tablets para alunos que sequer tinham internet em casa, além da falta de preparo de alunos e professores para o seu uso adequado. A administração Tarcísio de Freitas, em São Paulo, talvez seja o maior exemplo da contramão desse movimento sueco ao investir milhões de reais na plataformização da educação paulista, com aulas sendo preparadas por inteligência artificial e ministradas a partir de plataformas na Internet.
Fontes:
G1.

