O professor e pesquisador Salem Nasser fala que todos os temas relativos ao povo palestino são cobertos por uma névoa que nos atrapalha a compreender a real situação do que se passa por lá. Essa névoa, no entanto, não surgiu por efeito espontâneo, nem é resultado de um processo histórico, mas efeito de bilhões e bilhões de dólares investidos em propaganda sionista. O resultado é que sabemos pouco ou quase nada do que se passa na Palestina, mas sabemos todas as versões oficiais de Israel, além de toda uma literatura, cinema e informações a respeito da necessidade dos judeus de possuírem uma terra. Não que um povo não precise de uma terra, todos precisam e aí está o nó da questão: o sionismo se afirma como identidade na necessidade brutal de deixar outro povo sem terra. É sobre isso o documentário Sem Chão.
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No título original, No Other Land é um documentário de 2024, uma produção palestina com apoio de um coletivo israelense não sionista. Através das lentes de dois jovens, o filme mostra a gradual destruição do vilarejo Masafer Yatta por soldados israelenses na Cisjordânia ocupada.
A história é a seguinte: Israel decreta que uma área será usada para treinamento militar e, por isso, destrói e desocupa um vilarejo inteiro. Como forma de coação, enviam colonos armados e encapuzados para tocar o terror no local, visando a expulsão dos seus moradores.
Para impedir que isso aconteça, o jovem Basel, um ativista incansável, utiliza sua câmera como forma de denúncia das violências. Seu pai, que outrora também fora um militante, inspira suas ações de organização dos moradores em torno de manifestações, contestações legais e exposição das violências nas mídias e redes sociais.
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Por sua vez, um jornalista israelense chamado Yuval se junta a Basel e participa das filmagens das invasões, escrevendo para veículos israelenses e ajudando na denúncia. Juntos, os dois vão formar uma amizade diante da diferença brutal em que ambos vivem: um é proibido de sair da Cisjordânia sem autorização. O outro, com trânsito livre, se revolta com seu próprio país e passa os dias ao lado de Basel.
O mais surreal é que o filme começou a ser feito em 2017, época em que esse assunto não estava nos noticiários. Pior ainda, o documentário mostra imagens de Basel ainda criança vivendo a mesma coisa, participando de manifestações ao lado do pai em atos idênticos aos que vive em 2025. Claro, um cenário que piora imensamente depois de outubro de 2023.
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É chover no molhado falar da resiliência palestina, da capacidade de superação do povo que passa a viver em cavernas e tendas improvisadas, voltando a utilizar fogueiras e instalando televisões e geladeiras mesmo nas condições mais adversas. Impossível também não mencionar a crueldade, frieza e o racismo estampado na cara de cada sionista violentamente armado diante de um povo frágil e desamparado.
Não tem jeito. A luta será incansável, mas será vencida. A Palestina vai ser livre!