Recentemente, a sexta edição do “Retratos da leitura no Brasil” foi lançada. A pesquisa, realizada desde 2001, é a única análise nacional que avalia o comportamento do leitor brasileiro.
Mas o que será que a pesquisa revelou sobre a leitura no Brasil? Abaixo, destacamos os principais pontos da pesquisa!
Os parâmetros da pesquisa Retratos da leitura no Brasil
Visando “conhecer o perfil do leitor e do não leitor brasileiro, identificando seu comportamento leitor quanto a intensidade, forma, limitações, motivação, representações e condições de leitura e de acesso ao livro – impresso e digital”, a pesquisa entrevistou 5.504 pessoas, em 208 municípios brasileiros.
O público da pesquisa é diverso: residentes no país com 5 anos ou mais, alfabetizada ou não. Além disso, as entrevistas foram domiciliares, face a face, e realizadas por meio de tablets, com um questionário de 147 questões.
E, para deixar claro, a pesquisa considera como leitor é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro de qualquer gênero, impresso ou digital, nos últimos 3 meses.
Vamos aos dados?
O leitor brasileiro
Com 93,4 milhões de leitores, 47% dos brasileiros são “leitores”, segundo a pesquisa. Isso significa uma queda de 5% em relação a 2019, quando tínhamos 100,1 milhões de leitores, e de 9% em relação a 2015.
No geral, o brasileiro leu 2,04 livros nos últimos três meses, sendo 0,82 inteiros e 1,22 em partes. Porém, entre os considerados “leitores”, esse número sobe para 4,36, sendo 1,75 lidos inteiros e 2,61 em partes.
Já nos últimos 12 meses, o brasileiro em geral leu apenas 3,96 livros, enquanto o brasileiro que lê leu 7,91 livros, 4,22 inteiros e 3,69 em partes
Quando olhamos o gênero, a maioria dos leitores são mulheres (49), e crianças de 11 a 13 anos, já que 81% deste público leu um livro nos últimos 3 meses. Percebemos que, quanto mais as pessoas vão envelhecendo, a frequência de leitura vai decaindo, como vemos abaixo:
Quanto a classe social, a classe A é a que mais lê, com 62% do seu público, enquanto apenas 35% dos brasileiros da classe D e E lê livros.
Sobre o consumo dos livros, de forma geral, 47% dos brasileiros compram livros, 22% são presenteados, 16% procuram as bibliotecas das escolas, e 16% realizam downloads na internet.
As motivações e hábitos de leitura
E qual será o principal incentivo para ler um livro? Segundo a pesquisa, 24% dos brasileiros procuram a leitura porque gostam, 15% por distração e 15% por atualização cultural ou conhecimento geral. Na tabela abaixo, é possível ver as outras motivações:
E os fatores que influenciam a escolha do livro são muitos. Os cinco principais são: tema ou assunto (30%), a capa (12%), dicas de outras pessoas (11%), título do livro (11%), e autor (10%). Já os gêneros mais lidos são: Bíblia, contos, romance, religiosos e poesia.
Um dado interessante, e positivo, é que 75% dos brasileiros gostariam de ler mais. Entre os leitores, a falta de tempo, com 46%, é o principal motivo de não lermos tanto.
Entre os “não leitores”, o principal motivo também é a falta de tempo, com 33%, seguido de não gostar de ler, com 32%. Destaca-se também que 14% não consome livros por não saber ler.
Já entre as principais dificuldades estão: a falta de paciência (26%), ler muito devagar (18%) e ter problemas de visão e outras dificuldades com a leitura (15%). Porém, 38% afirmou não ter dificuldade nenhuma.
Observar o gosto pela leitura também é interessante. Como vemos no gráfico abaixo, as crianças são as que mais gostam de ler e, assim como a frequência de leitura, o gosto por ela tende a decair conforme a idade.
Mães e responsáveis do sexo feminino e professores aparecem como os principais responsáveis pelo gosto de leitura. Porém, 85% do público afirmou que ninguém influenciou ou incentivou a leitura.
Inclusive, entre crianças de 5 a 13 anos, 64% disseram que nenhum pai, mãe ou parente leem para eles sempre. Entre os “leitores”, esse número é de 56%, entre os “não leitores” de 72%.
Entre dez livros mais marcantes para os brasileiros são: a Bíblia, O Pequeno Príncipe, Turma da Mônica, Harry Potter, Diário de uma banana, A culpa é das estrelas, Sítio do Pica-Pau Amarelo, A cabana, Crepúsculo e Violetas na Janela. Já os autores mais conhecidos são: Machado de Assis, Monteiro Lobato, Maurício de Souza, Clarice Lispector, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Augusto Cury, Paulo Coelho, Cecília Meireles e Zibia Gaspareto.
Veja também: Qual o valor da sua leitura? Ser humano levaria 5 meses para ler os 500 melhores livros do mundo, diz pesquisa
A leitura e o seu contexto digital
Os dados da leitura digital são intrigantes. Segundo a pesquisa, 51% dos brasileiros nunca ouviu falar de livros digitais. Em um mundo digital, onde segundo dados atualizados do IBGE, 92,5% dos domicílios possuem internet, é necessário compreender o porquê desse número tão alto.
Assim, apenas 38% já leu um ebook. Destes leitores, 75% leu livros no celular, 28% no computador, 9% em um leitor de livros e 8% em tablet ou Ipad. Quanto a origem dos livros, 86% fez o download gratuito da internet, 26% pagou pelo livro e 2% não sabe ou não respondeu.
Quanto ao formato preferido, 57% preferem livros de papel, 22% digitais e 21% ambos.
A pesquisa mostrou também que apenas 23% da população consumiu audiolivros, um aumento de 3% em relação a 2019.
As bibliotecas
Um dos dados mais alarmantes da pesquisa foi o descaso do brasileiro com as bibliotecas. 75% dos brasileiros não frequentam a biblioteca, um aumento de 7% em relação a 2019. E, 39% afirmaram que nada os faria frequentar as bibliotecas.
Já 59% dos brasileiros acreditam que as bibliotecas sejam locais para pesquisar ou estudar, 19% um local voltado para todas as pessoas e 18% um local para emprestar livros.
46% também respondeu que não existe na cidade ou bairro uma biblioteca pública, enquanto 74% acreditam não existir uma biblioteca comunitária. Na tabela abaixo, podemos ver o perfil do frequentador de bibliotecas.
Algumas reflexões
A pesquisa é ampla e deve desencadear diversas discussões. Devemos ter um olhar atento para a queda de leitores em todas as faixas etárias e classes sociais e, mais do que isso, cobrar políticas públicas de nossos governantes para a melhora dessa situação.
Muitos veem sua própria realidade e esquecem que muitas escolas públicas brasileiras estão sucateadas e que nem todos possuem tempo para ler, ou incentivar a ler, pois precisam trabalhar e desempenhar outras funções essenciais da vida. Assim, é necessário ir mais a fundo e descobrir como estimular a leitura nesse país.
Mais do que nunca, ser um leitor me parece um privilégio que precisa se tornar, urgentemente, um direito acessado por uma parcela maior da população
Para acessar a pesquisa completa, clique aqui.