Em Coisas óbvias sobre o amor, sequência da duologia Laranja Forte, publicada pela Editora Record, a escritora Elayne Baeta nos conduz ao tão aguardado reencontro entre Édra Norr e Íris Pêssego, após três anos de afastamento.
Acompanhamos Édra em sua nova rotina em Montana, uma cidade marcada pelos entardeceres frios e azulados, refletindo a tranquilidade monótona de uma vida linear, à qual ela tenta, sem sucesso, se adaptar. Apesar da frieza do lugar, Édra encontra conforto na amizade de brasileiros como Ramon e Seu Garrilho, colegas de trabalho no acolhedor Croquete Cabana.
Tudo muda quando um convite inesperado surge, oferecendo a chance de deixar Montana e retornar ao Brasil. Lá, ela reencontra sua família, amigos e, inevitavelmente, sua antiga paixão, Íris Pêssego.
A narrativa é envolvente e nos captura desde a primeira página. A cada novo capítulo, cresce a curiosidade sobre como as personagens enfrentarão as mágoas ainda latentes e os dilemas não resolvidos de seu passado, enquanto caminhamos em direção a um desfecho que promete mexer com nossas emoções.
Além do romance central, o livro aborda de maneira sensível questões fundamentais da vivência lésbica de Édra: o processo de descoberta, o anseio por se sentir desejada e os desafios impostos por uma sociedade que exige a performance da feminilidade. Esses temas são particularmente significativos para mulheres sáficas que não se encaixam nos estereótipos convencionais.
Repleto de reviravoltas, triângulos amorosos e momentos que despertam as mais diversas emoções, o enredo mantém o leitor cativado do início ao fim.
Há um debate importante sobre as diferentes noções de amor apresentadas na trama, de um lado há um amor linear e calmo, do outro uma paixão arrebatadora, laranja forte. Elayne Baeta questiona a ideia do amor comodista, de estar com alguém simplesmente por estar, sem que haja uma conexão real.
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Além da trama principal, também há outros personagens que desempenham um papel importante no romance, como Cadu, que pouco a pouco vai conquistando a amizade de Édra, os dois desenvolvem uma relação de companheirismo muito bonita. Dona Ana Símia e Seu Júlio Sena nos ensinam que nunca é tarde para recomeçar.
Nos emocionamos, juntamente com Édra, ao conhecer mais de perto a história de sua mãe, sua juventude, seus sonhos e medos, assim como seu romance com Augustus, e como há beleza em tudo o que aconteceu apesar dos elementos trágicos.
Não podemos deixar de mencionar Thiessa, uma adolescente que se inspira em Édra para tocar seu ukelele. Em fase de questionamentos, um diálogo bastante marcante que acontece entre as duas é o seguinte::
“Como você se sente quando pensa que é léabica”, perguntei […]
“Em casa”, disse ela. “Me sinto em casa.”
“Então, Thiessa”, respondi, acenando com a cabeça e dando meio sorriso, “Você é lésbica.”
Livros como os de Elayne Baeta oferecem mais do que entretenimento: são necessários porque, assim como ela demonstra, meninas que amam meninas também merecem histórias de amor nas quais possam se reconhecer. É gratificante poder ler histórias como as da duologia Laranja-Forte, que trazem representatividade para a conunidade LGBTQIAPN+.
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