Com construção de belas imagens, Marcelo Marcus Fonseca apresenta ao público um dos trabalhos mais bonitos da temporada do teatro paulistano.
Quando temos contato com De Dionísio para Koré, ficamos extremamente instigados com a história proposta e construída por Marcelo Marcus Fonseca, diretor e fundador do Teatro do Incêndio. Do encontro com a obra “Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão”, de Hilda Hilst, Marcelo Marcus Fonseca elaborou 42 poemas sintéticos que contam a trajetória de Koré (Perséfone jovem) seduzida por Dionísio e transformada nele próprio para devolver-lhe a dor. Escrito em três dias, o livro busca o ponto de vista do Deus grego despedaçado e renascido.
Na mitologia grega, Dionísio é o patrono do teatro, o deus do vinho, do êxtase, da loucura divina, da fertilidade e dos ciclos da natureza, enquanto Korê, como Perséfone, é a deusa do submundo e da renovação da vida. Na tradição órfica, uma vertente mística da religião grega, existe uma ligação entre os dois que é especialmente relevante: ambos representam a morte e a renovação, vivendo entre mundos, já que Dionísio também possui uma faceta ligada ao submundo e à experiência de transição entre a vida e a morte.
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A peça, com sua poética e linguagem inédita, abusa de todos os elementos cênicos com maestria. Na primeira imagem apresentada ao público, temos um coro formado por mulheres, um coro tão bem alinhado e lindo que nos remete as Musas, divindades associadas à inspiração artística e científica. As mesmas Musas que Homero pediu ajuda para contar a história da Ilíada e da Odisseia. Essas divindades guiam de forma brilhante a peça.
Em grande estilo Dionisíaco, Fonseca encaixa belissimamente elementos de dança contemporânea, ora em grupo, ora em solo, e ótimas performances que nos envolve na trama e acalenta nossos corações e olhos.
Durante a apresentação temos um grupo muito coeso com ótimas atuações e presença de palco, o que torna quase injusto citar nomes como destaques, mas entre as encenações sempre sofisticadas, temos Amy Campos e Francisco Silva que constroem uma das interpretações mais comoventes da peça.
Tecnicamente temos um o espetáculo gracioso, com um figurino especialmente desenhado por Sabrina Sartori e Sara Zizuino, e uma luz que magnifica de Beto Martins e Marcelo Marcus Fonseca.
Virginia Woolf no final de seu ensaio On not knowing greek expressa a ideia de que, É para os gregos que nos voltamos quando estamos cansados da imprecisão, da confusão do cristianismo e suas consolações, quando estamos cansados da nossa geração. Dessa forma, acredito que a proposta de Marcelo Marcus Fonseca para De Dionísio para Koré, é antes tudo uma renovação para o teatro brasileiro com um olhar para Grécia antiga, pois tanto Dionísio quanto Koré estão profundamente ligados aos ciclos da natureza. A descida de Koré para o submundo e sua posterior ascensão representam a morte e o renascimento.
FICHA TÉCNICA
Espetáculo: De Dionísio para Koré
Texto e Direção: Marcelo Marcus Fonseca
Coreografias: Francisco Silva
Iluminação: Beto Martins e Marcelo Marcus Fonseca
Figurinos: Sabrina Sartori e Sara Zizuino
Assistente de iluminação e operação de luz: Sara Zizuino
Trilha sonora: Marcelo Marcus Fonseca
Mixagem de áudio: Daniel Klaussner
Cenografia: Marcelo Marcus Fonseca e Sara Zizuino
Fotografia: Kym Kobayashi
Produção e realização: Teatro do Incêndio
Elenco: Francisco Silva, Dhiovana Souza, Marcelo Marcus Fonseca, Isabela Alonço, Sabrina Sartori, Amy Campos e Henrique de Sá.
SERVIÇO
Temporada: 26/10 a 15/12
Local: Teatro do Incêndio
Rua Treze de Maio, 48 – Bela Vista/SP.
Tel: (11) 2609-3730
Temporada: Sábados, às 20h, e domingos, às 19h. Até 15/12.
Ingressos: R$ 50,00 (meia: R$ 25,00). Bilheteria 1h antes da sessão
Duração: 45 min. Gênero: Drama poético e dança. Classificação etária: 16 anos.
Capacidade: 70 lugares. Aceita dinheiro e PIX. Café/Bar. WiFi.
Estacionamento em frente. Acessibilidade.
@teatrodoincendiooficial
Mais informações: teatrodoincendio.producao@gmail.com