Uma coisa que me fascina nos escritores é a capacidade de fazer nascer coisas onde não havia nada. Onde havia um desvão do mundo. Depois, eles partem e deixam o buraco novamente na gente, mas por um instante aquilo é preenchido em nosso pensamento. Hoje, trazemos aqui uma curiosidade sobre o escritor português José Saramago.
Trata-se de um exemplo de um caso divertido e fascinante. No documentário José e Pilar, em determinado momento, a câmera mostra o escritor português José Saramago sentado diante de seu computador. Com a cara séria, como se estivesse carregando uma biblioteca na cabeça, ele olha pra tela focadamente. De repente, a câmera começa a se deslocar para mostrar o que ele fazia diante do aparelho. Eis que…ele estava jogando Paciência.
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A gente que imagina que um gênio é gênio sempre, sorri diante daquela imagem tão frívola e banal. Quem nunca gastou um pouco de tempo diante da vida pra jogar um joguinho?
Jogando paciência: quem nunca gastou o próprio tempo com uma diversão?
A vida ainda é feita disso, embora uma parte minha não deixe de pensar o quanto somos entropia quase o tempo todo. Imaginar ter tido Saramago neste mundo e ter deixá-lo gastar jogando Paciência?
Porém, a virada se dá quando perguntam Saramago sobre o joguinho de Paciência. Ele diz que gosta de jogar e que gosta, principalmente, quando ganha porque as cartas do baralho começam a descer como num ballet. As cartas, depois da vitória, dançam diante de nossos olhos.
É aí, nesses dois lapsos de tempo: entre o frívolo e mistério, que mora a arte.