Ana Alice Azevedo, de 21 anos, natural de Niterói, no Rio de Janeiro, foi uma das candidatas que alcançou a nota máxima na prova de redação do Enem 2022. Com o tema “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”, a estudante utilizou como repertório o teatrólogo, jornalista e escritor Nelson Rodrigues, além da própria Constituição Brasileira.
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Ana Alice preparou-se para o Enem desde 2019, quando finalizou o ensino médio. Em 2022, ela passou a dedicar-se integralmente, estudando 12 horas por dia e escrevendo em média 2 redações por semana. O esforço e a dedicação garantiram a aprovação em 1º lugar no curso de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF).
“Eu sempre gostei muito de ler e esse foi um hábito que eu mantive durante o meu preparo para o Enem, então acho que isso acabou influenciando também na minha nota na redação. Outro ponto que acho que influenciou foi que eu tentei me manter o mais atualizada possível em relação a notícias e em relação a atualidades”, comentou a estudante.
Veja alguns trechos da redação:
Na introdução, a estudante faz a comparação entre a primeira fase do Romantismo e o momento atual:
“Na primeira fase do Romantismo, os aspectos da natureza brasileira e os povos tradicionais foram intensamente valorizados, criando um movimento ufanista em relação a características nacionais. Tal quadro de valorização, quando comparado à realidade, não foi perpetuado, apresentando preocupantes desafios para a exaltação das comunidades nativas na contemporaneidade. Nesse sentido, a problemática não só deriva da inércia estatal, mas também de descaso social. “
No desenvolvimento, ela destaca duas problemáticas – inércia estatal e descaso social. Para reforçar a responsabilidade estatal, ela utiliza a Constituição Brasileira de 1988, além de citar o ‘complexo de vira-lata’ para apresentar a ideia desenvolvida. Vale lembrar que essa expressão apareceu pela primeira vez numa crônica de Nelson Rodrigues, em 1958, na revista na Manchete Esportiva. A ideia centrou-se incialmente ao futebol. Anos depois, no entanto, o termo acabou alcançando uma dimensão maior e passou a ser utilizado em referência à falta de autoestima e autoconfiança do brasileiro e à sensação de inferioridade em relação ao estrangeiro.
“De início, é importante observar que a inércia governamental é uma das principais barreiras para a valorização dos povos tradicionais. Nessa perspectiva, de acordo com a Constituição Brasileira de 1988 é responsabilidade do Estado garantir a preservação e a exaltação das comunidades nativas, incluindo medidas voltadas para a proteção de suas culturas. […]
Além disso, o descaso social é outro desafio que alastra a desvalorização de comunidades nacionais. Nesse viés, segundo o escritor Nelson Rodrigues, isso ocorre devido ao Complexo Vira-Lata presente entre os indivíduos, em que os brasileiros apresentam, em sua maioria, um sentimento de inferioridade perante as nações exteriores, depreciando, assim, a cultura nacional. […] Consequentemente, a visão míope e deturpada da sociedade é responsável por formar um corpo social negligente e indiferente acerca da própria história, ocasionando o abandono de parcelas tradicionais e o esquecimento do legado cultural dos povos nativos. […]”
Confira a redação comentada na íntegra AQUI