Cláudia Abreu escreve e atua em “Virginia”, primeira peça escrita por ela inspirada na obra e vida de uma das maiores escritoras do século XX, Virginia Woolf. A peça inclui questões contemporâneas, mas todas tratadas por Woolf como a misoginia, assédio moral, discriminação intelectual, violência psicológica, estupro, entre outros. A peça é uma espécie de revival ou reencontro de Cláudia com a escritora, uma vez que aos 18 anos, a atriz encenou a celebrada adaptação de “Orlando” de Bia Lessa.
O NotaTerapia separou 5 motivos para você conhecer a peça Vírginia, com Cláudia Abreu:
1- Suicídio de Virgínia Woolf
O texto de Cláudia Abreu, sua estreia como dramaturga, encena últimos minutos de vida da escritora britânica. Aos 59 anos, a escritora e editora escreveu um bilhete de despedida para o marido e a irmã, encheu de pedras os bolsos de seu casaco e se afogou no Rio Ouse, no interior da Inglaterra. Seu corpo foi encontrado por acaso, três semanas depois, por crianças. A partir desses últimos momentos, Cláudia constrói uma série de reflexões sobre a história da escritora, mas também sobre a condição da mulher no século XX.
2- Cláudia Abreu e Virgínia Woolf: adaptação de um clássico
Um esboço do passado” é um dos últimos textos de Virginia Woolf. Com quase sessenta anos, a autora tinha a intenção de escrever uma autobiografia e as lembranças contidas na obra são um ensaio nesta direção. Em uma linguagem híbrida e poética, mesclando a escrita autobiográfica com a prática diarística, acompanhamos um movimento de rememoração. Woolf reflete sobre seu passado sob a perspectiva do momento em que escreve. Entram em foco assuntos familiares, acontecimentos marcantes e uma discussão acerca da própria linguagem de sua escrita. “Um esboço do passado” foi traduzido por Ana Carolina Mesquita, especialista na obra da autora, sendo a primeira obra de Virginia Woolf publicada pela Editora Nós.
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3- Um monólogo sobre abusos
Virginia Woolf relatou algumas violências sofridas em “Um esboço do passado”. Claudia Abreu incluiu na peça o estupro da escritora por dois irmãos por parte de mãe, um deles 18 anos mais velho. Woolf jamais superou a dor e o trauma.
Identificada com sua visão de mundo e sensibilidade, a atriz teve vontade de reviver Virginia Woolf no teatro. “Uma vivência atormentada, mas que também é brilhante por transformar toda sua dor em arte”, ressalta.
No monólogo, Cláudia traz um recorte do que mais a impactou na vida da ensaísta, como os abusos e tragédias vividas. Apesar de afirmar nunca ter sofrido uma situação concreta de assédio, a atriz se identifica com a história por ter presenciado muitas situações com outras mulheres.
Leia também: A carta de despedida de Virginia Woolf
4- A peça virou livro: Virgínia (Um inventário íntimo)
Nesta peça, Claudia Abreu presta um tributo à teatralidade woolfiana, entretecendo a voz de Virginia com diversas outras presentes em sua vida para formar um quadro movente do espírito de uma das maiores artistas do século XX. O que temos é um mergulho imaginativo na mente de Virginia. Somos levados de um lado a outro como se ao sabor das ondas, onde o tempo cronológico é colocado em suspensão, passado, presente e futuro se misturam – e, muito woolfianamente, os momentos se tornam centros onde um imenso número de percepções se unem para dar conta da extraordinariedade da vida.
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5- Um trecho está disponível
VIRGINIA: E a minha mãe, que na juventude teve tantas expectativas em relação à vida, que de tão bela chegou a posar para pintores pré-rafaelitas, faleceu de esgotamento aos 49 anos. Aquela mulher, o quanto ela poderia ter realizado com todo o seu entusiasmo, com a força de trabalho que tinha, ela podia ter feito tanto, tanto!
JULIA: É claro que eu tinha o orgulho de ter construído uma grande família. Mas não me realizei pessoalmente. Vocês podem dizer “Ah, você foi uma mulher típica de sua época”. E, é esse o ponto, as mulheres sempre foram menosprezadas, invisíveis.
VIRGINIA: “O anjo do lar”… Eu escrevi sobre isso. Na literatura, as mulheres tinham destaque, eram descritas como fortes. Nos gregos, em Shakespeare… Mas até pouco tempo, a vida cotidiana da mulher, a mulher comum, não tinha relevância nos livros, muito menos seus desejos, seus sonhos. Era como se isso não importasse. Já a figura do homem refletida no espelho tinha o dobro de seu tamanho natural. E era assim que queriam ser vistos pelas mulheres. A vida não fez jus ao potencial e à grandeza da minha mãe. O que eu sou eu devo a ela.
Ela se realizou, sim, através de mim. Porque ela é a minha inspiração, sempre esteve aqui comigo, mesmo que nem sempre de maneira tranquila para mim. Escrever me libertou da dor da ausência dela, da sua voz que ecoava em mim todos os dias desde a sua morte. Só assim consegui expurgar grande parte das minhas vivências em família. Eu nunca pude frequentar a escola. As mulheres não tinham esse direito. Aliás, em muitos lugares, elas não têm esse direito até hoje (…)
E aí, ficou animado pra ver a adaptação de Cláudia Abreu pra história de Virgínia Woolf?
Fonte:
https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2022/07/em-virginia-claudia-abreu-comove-e-leva-publico-a-debater-a-opressao-feminina-e-como-se-manter-sao-em-tempos-sombrios.ghtml
1 comentário
Peça maravilhosa! Cláudia retratou fantasticamente a vida de Virgínia… trágica e brilhante vida!