Chico Buarque lançou seu primeiro romance, O Estorvo, e causou grande rebuliço no meio literário. A personagem alucinada, vertiginosa, gerou debates e discussões, principalmente pra quem esperava nos livros o Chico das canções. Chico navegou por diversos estilos nos romances, desde o envelhecimento em Benjamin, até a velhice de Leite Derramado. Desde o estranhamento da língua em Budapeste, até as história do passado que voltam em O Irmão Alemão.
Porém, Chico Buarque nunca investiu nos contos. Essa é a primeira vez com “Anos de Chumbo e Outros Contos”, publicado pela Companhia das Letras. O livro está em pré-venda e chega nas livrarias no dia 22 de outubro.
Do que fala o livro?
O livro tem uma série de histórias. Uma jovem e seu tio. Um grande artista sabotado. Um desatino familiar. Uma moradora de rua solitária. Um passeio por Copacabana. Encontro de um fã fervoroso de Clarice Lispector. A vida de um casal em sua primeira viagem. Um lar em guerra.
Segundo divulgação da editora, os oito contos que formam este volume conduzem o leitor pela sordidez e o patético da condição humana. Com alusões ocasionais à barbárie do presente, o autor ergue um labirinto de surpresas, em que o sexo, a perversidade, o desalento e o delírio são elementos constitutivos da trama. Em Anos de chumbo, Chico Buarque põe seu conhecido domínio da linguagem a serviço da concisão da forma.
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Trechos:
“Ele não podia adivinhar que naquele instante um curioso abria um passaporte abandonado junto com o cartão de embarque na bancada da pia do banheiro. O indivíduo mal acreditou ao ver nos documentos o nome e as fuças do grande artista que ele mais detestava. De imediato detestou a ideia de que a celebridade fosse tomar champanhe em Paris, viajando no mesmo avião que ele. Pressentindo que o canalha voltaria ao banheiro a qualquer momento, num reflexo atirou passaporte e cartão na lixeira embutida na pia.” (“O passaporte”)
“Levantou-se, andou de lá para cá na penumbra, chamou baixinho seu nome, espiou a cozinha, o corredor, foi até o hall de entrada, e quando abriu a porta para ir embora, uma ventania escancarou a janela da sala e levantou as cortinas. Como que surgida por trás das cortinas, Clarice Lispector o chamou para ver como era bela a sua fatia de mar por entre as paredes de edifícios. No breu da noite, ele não só viu a espuma branca das ondas, como respirou a maresia combinada com o cheiro de banho dos cabelos dela.” (“Para Clarice Lispector, com candura”)
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