Essa é uma das histórias mais assustadoras, violentas e aterradoras da ditadura militar brasileira. Na madrugada do dia 14 de abril de 1976, Zuzu Angel voltava pra casa depois de passar a noite na festa da casa de uma amiga. Ela ia em direção a Barra da Tijuca, onde morava, e já estava perto de casa quando sofreu um “acidente”. Ao sair do Túnel Dois Irmãos, ela perdeu o controle do carro e bateu na mureta do viaduto, capotada, de cabeça pra baixo, próxima a favela da Rocinha.
Ela morreu ali mesmo. Com a chegada da polícia, o laudo dizia que ela devia estar bêbada ou com o carro quebrado. Oficialmente, ela teria batido porque dormiu na direção. A verdade? Apenas décadas depois.

O Globo fez uma incrível matéria em vai detalhando todos os pontos dessa história, contando que as duas mil pessoas presentes no enterro desconfiavam desse laudo, principalmente Chico Buarque que, uma semana antes de morrer, tinha recebido uma carta de Zuzu:
“Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”.
Chico chegou a compor uma canção em homenagem à estilista e seu filho chamada Angélica. Confira aqui:
Zuzu, estilista renomada, conhecida, famosa pelo seu trabalho, vinha causando problemas para a repressão desde 1971, quando seu filho foi assassinado . Stuart Angel integrava após longa tortura. Stuart fazia parte do MR-8, grupo da luta armada contra a ditadura. Tina 25 anos, foi preso por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa) e, em segredo, foi levado Base Aérea do Galeão, onde foi torturado e morto.

Ela promoveu desfiles no exterior em denúncia ao sumiço das vítimas da ditadura, inclusive seu filho e em 1973, mandou uma carta a Geisel:
Que teria sido feito do corpo do meu amado filho?”
Geisel já ia gradualmente abrindo o regime, aos poucos, mas sofria pressão da linha dura que chegou a acusa-lo de ser conivente ou, até, um comunista infiltrado no militarismo. Zuzu Angel, ao que parece, foi vítima dessas disputas internas do poder militar brasileiro que queriam estender ao máximo uma ditadura que, de um lado, retirava liberdades e, de outro, ceifava vidas nos porões.
Como aponta a matéria do Globo, pessoas próximas à designer jamais acreditaram em nada disso, mas os detalhes do episódio só vieram a público em 1998, quando o advogado Marcos Pires declarou ter visto o carro da vítima sendo abalroado por outro automóvel na saída do Túnel Dois Irmãos, causando a colisão. Em 1976, ele morava no Edifício Tiberius, à direita da pista. Naquela madrugada, o então estudante de Direito conversava com amigos em sua casa quando viu a cena pela janela do apartamento. Eles desceram para tentar chegar perto do Karmann-Ghia, mas foram impedidos por policiais.
Depois de 43 anos, apenas em 2019, a jornalista Hildegard Angel teve em mãos as certidões oficiais de óbito do irmão, Stuart, e da mãe, Zuzu, com a causa da morte correta. A procuradora responsável por emitir a declaração com as condições de morte, Eugênia Gonzaga, havia sido, um mês antes, afastada da presidência da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos em agosto deste ano, por intervenção do presidente Jair Bolsonaro. Agora, consta como causa “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada a população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985”.
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