Nascido em Milão, na Itália, o psicanalista e escritor Contardo Calligaris fez-se brasileiro. Seu primeiro contato com o Brasil foi em 1986, quando divulgava seu livro “Hipóteses sobre o fantasma”; um casamento e outras relações intelectuais e afetivas fizeram-no radicar-se no país, onde morreu em março de 2021, aos 72 anos.
Aluno de Lacan, Foucault e Roland Barthes, Calligaris foi colunista da Folha de São Paulo desde 1999 e escreveu sobre prática psicanalítica, adolescência, linguagem, sexualidade, filosofia e romances. Foi um pensador e terapeuta versátil, que se debruçou sobre muitos dos mais importantes temas de seu tempo. Uma dessas figuras com as quais sempre podemos aprender.
Selecionamos 5 obras do autor que você precisa conhecer. Confira:
1- Cartas a um jovem terapeuta
Através de cartas enviadas a dois terapeutas iniciantes – um jovem e uma jovem -, o psicanalista Contardo Calligaris divide com o leitor todo seu conhecimento e experiência em psicologia. Calligaris recorre ao eficiente método de perguntas e respostas para discutir e se aprofundar na profissão, e dá as informações necessárias a quem deseja conhecê-la melhor. Em tom bem-humorado e afetuoso, Contardo fala sobre o que é necessário para ser um bom psicoterapeuta, discute situações em que o paciente se apaixona pelo terapeuta, reflete sobre o começo da carreira, as diferenças entre psicoterapia e psicanálise, a problemática de se conseguir mais pacientes, entre outras questões.
2- O Conto do Amor
“O Conto do Amor” inicia com a visita de Carlo Antonini, psicoterapeuta que vive em Nova York, ao convento de Monte Oliveto Maggiore, na Toscana. Ali ele se depara com algo inusitado: a figura do jovem São Bento, pintada em um dos afrescos nas paredes, é parecida com seu pai, que morreu doze anos antes. Isso o remete ao próprio motivo de sua ida à Itália: uma estranha conversa que ambos tiveram pouco antes de o pai morrer, quando este revelou ao filho, em tom de confissão, que em outra vida teria sido ajudante do pintor maneirista Sodoma (1477-1549), justamente o autor daquelas imagens. É o início de uma história cheia de surpresas, envolvendo um caso amoroso em meio à Segunda Guerra e seus desdobramentos da época até o presente.
3- A Mulher de Vermelho e Branco
Carlo Antonini recebe uma nova paciente em seu consultório, em Nova York. O que parece uma consulta trivial, pouco antes de uma viagem que o terapeuta fará a São Paulo para uma palestra e alguns dias de férias, desencadeia uma trama envolvendo um casamento conturbado, uma organização suspeita de terrorismo, um assassinato e uma história familiar de vingança.
O livro traça o paralelo aparentemente improvável entre o que Antonini desconfia se esconder sob as palavras de sua paciente — a descrição de uma festa com seus dois filhos na qual tudo será “vermelho e branco” — e o encontro fortuito, num restaurante do bairro da Liberdade, com uma namorada vietnamita dos tempos em que morou em Paris. “A tentativa de me enlouquecer, maquinada por duas mulheres perigosíssimas?”, ele pergunta a certa altura. A resposta talvez esteja em outra fala sua: “Policiais e psicanalistas, temos isto em comum: não acreditamos em coincidências, não é mesmo?”.
Nesse mergulho num mistério que une passado e presente, há momentos dignos de um thriller, como o cerco a um suspeito num drive-in da zona leste paulistana, ou as conversas entre o narrador e um célebre consultor americano especializado em segurança pública. Ao mesmo tempo, emerge das ações externas uma reflexão delicada sobre identidades individuais — de ordem étnica, religiosa, ideológica, sexual — no mundo contemporâneo.
Por trás de tudo, como uma suma da variedade de temas que o romance trata por vezes com tensão dramática, por vezes com leveza e ironia, a impossibilidade de estabelecer uma versão definitiva dos fatos. “O que aconteceu é, antes de mais nada, o que contamos no primeiro relato”, diz Antonini. “E isso vale sobretudo quando se trata de um acontecimento que preferiríamos deformar ou esquecer”. Uma lição que terapeutas e escritores, acostumados a lidar com a ambiguidade das palavras e com as verdades construídas pelos mecanismos subjetivos da memória, sabem desde sempre.
4- Todos os Reis Estão Nus
‘Todos os reis estão nus’, diz o título do livro. O indivíduo contemporâneo depende do olhar dos outros, pois não tem essência – como uma cebola, é feito de mil cascas sobrepostas, sem caroço central. O famoso menino que denunciou a nudez do rei talvez gritasse hoje que embaixo da roupa régia não há nada ou quase nada. É fácil imaginar as consequências disso – inseguranças, insatisfações abstratas, questionamentos que provocam angústia sobre quem somos e como os outros nos veem. O autor, porém, não é nostálgico – nosso ‘mal-estar’ é apenas o preço que pagamos pelo privilégio de pertencer a uma época em que a vida é uma aventura, e a rebeldia, um valor.
5- Crônicas do Individualismo Cotidiano
A obra reúne escritos representativos de uma intervenção intelectual que assume o desafio de discutir, a partir de eventos do cotidiano, como a liberdade se tornou, para nós, seres contemporâneos, um mal-estar, um incômodo social e existencial.
*Sinopses retiradas do site Skoob,