Como criar uma “Armadura Lírica”? A poeta Bruna Baldez responde em novo livro de poesia

A poeta carioca, mas que atualmente vive por terras paulistas, Bruna Salgado Baldez, lançou um livro de poemas em que busca as semelhanças e parecenças dos opostos para pensar a vida. Nascida em 1992, a poeta lança Armadura Lírica, uma série de escritos que escapa do lirismo que nos deixa sonâmbulos e nos coloca em um permanente estado de guerra com as forças do mundo.


O NotaTerapia fez uma entrevista com a poeta que, gentilmente, respondeu as perguntas de um editor um pouco atrapalhado com as perguntas. Confira:

Você escolheu chamar o seu livro de Armadura Lírica, né? Mais do que querer saber o porquê do título, acho que podemos buscar nele sua ambivalência: a armadura que é sempre algo que impede que algo o atravesse e o lirismo que busca a porosidade da palavra, ou seja, algo que quebra o efeito de armadura. O que você buscava armar com estes dois pontos?  

R: Armadura lírica é o nome de um poema que foi atribuído também ao título do livro. Trabalhar com sentidos contrários sempre foi um dos meus artifícios no processo de escrita. Essa contrariedade, entretanto, é ilusória. Gosto de unir pontos aparentemente opostos para expor suas semelhanças, numa tentativa de compreender do que somos feitos. A palavra é um escudo; a poesia me protege do mundo, mas, ao mesmo tempo, me oferece ferramentas para melhor habitá-lo. 

Em alguns dos seus poemas, a gente pode ver que você parte de uma estrutura que vai se desfazendo no decorrer do poema, porém sempre se abrindo para potências da criação, revoluções. Como você pensa a poesia como um todo e, em especial, a sua poesia? 

R: No último verso de um poema, digo: “É preciso morrer para escrever” (poeta anônimo). Em outro, numa espécie de receita, proponho ao leitor desfazer, passo a passo, toda a estrutura de um poema (Manual da despoesia). Só existe a possibilidade de construção se houver, antes, o apagamento das ideias precedentes (inclusive nossas). Uma vez, em uma oficina de escrita ministrada pelo escritor Marcelino Freire, ele disse: “não se apeguem às ideias”. Esse é um modo de expandir nosso potencial criativo e se surpreender a cada resultado.



O que há de armadura e o que há de lírico na poesia? Você tem poetas que se inspira tanto pelo lado armadura, como um João Cabral, quanto por um aspecto lírico quanto um Vinícius de Moraes?  

R: A armadura nos mantém atentos, combativos, em guerra. O lirismo nos deixa em estado sonâmbulo, inspirado – é a arte pela arte. Vejo muito lirismo em Adélia Prado, Cecília Meireles, Baudelaire; e um tanto de armas em Drummond. Ainda assim, acredito que a poesia é sempre feita dessa simbiose. Somos indivíduos líricos e sociais. Há sempre um aspecto mundano por trás da palavra. 


No poema Colcha de retalhos, você destaca um estrangeirismo em que se vê diante da palavra e do corpo. Como você vê a palavra, principalmente, a poética, esta que nos torna estrangeiros?
 

R: Ao experienciar o mundo, muitas vezes, acabamos nos identificando com o lugar do outro. Deixamos que nossos sonhos sejam colonizados, como é pontuado em Estrangeira. Na escrita, ocorre um processo similar. Somos envolvidos por uma palavra que, ao tomar forma de poema, deixa de ser apenas nossa. Ao chegar ao leitor, ganha ainda uma terceira voz. No final das contas, a própria fragmentação se torna base para o meu falar e existir poético. 

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