O Fiel e a Pedra, de Osman Lins, inspirado na Eneida de Virgílio, conta a história de Benardo, um homem cuja retidão moral, senso justiça e posições éticas são intransigentes, inegociáveis, sejam quaisquer as circunstâncias. O problema é que, ao seu lado, está Teresa, sua esposa, que se vê diante da morte do primeiro filho um pouco por doença, um pouco por fome, após Bernardo demitir-se de um trabalho em que se cometiam ilegalidades. Entretanto, a vida de Bernardo parece que vai mudar quando é chamado por um comerciante local para cuidar de uma fase, fato que dura pouco, pois após a morte desde comerciante, seu irmão, o impassível Nestor, resolve fazer com que Bernardo ponha-se ao seu lugar, atentando contra sua vida e contra os poucos bens que ele havia reunido. Ao seu lado, um amigo/empregado, Antônio Chá, que ao lado dele forçam um elo de afeto entre aquelas que mais precisam e menos têm. Ao fim, agora com a esposa grávida novamente, Bernardo precisa encarar uma luta em busca de sua própria sobrevivência. Será que Nestor e seus capangas conseguem lhe tirar a vida?
O NotaTerapia separou as melhores frases da obra:
-Nem tudo pode ser como a gente quer, Teresa.
-Nada tem sido como a gente quer.
O homem veio devagar, sentou-se pesadamente a seu lado.
-Eu sei. Tudo meu é assim.
Ele escondeu o rosto nas mãos. Era a história de sempre – as traições da alma. E chegaria assim ao fim de sua vida, jamais se dominando por completo, sempre em luta com as partes odiosas de si mesmo, aquelas que fugiam, que acusavam, que condescendiam. A quem sobre a terra, a quem no mundo quisera proteger como a Teresa? A quem mais fortemente amara? E quem, mais do que ela, merecia a sua proteção, o seu querer, seu zelo?
Quem poderia adivinhar que nos silêncios, como nas palavras sem definida intenção, geravam-se anos interior, com mil segredos no seu bojo? (p. 12)
Em mim, tudo custa a crescer. Acho que vou perder minha vida assim. O que eu sinto, o que procuro fazer, o que acho que devo fazer…
A morte é uma espécie de deformação; que em todo morto havia uma ferida ou um ricto, algum sinal monstruoso. Como explicar, de outro modo, o clamor que se seguia à morte, os brados, a desesperação em torno do cadáver?
Porque toda virtude em demasia é uma ilharga exposta.
É por isso que lhe odeiam e têm inveja. Todos sentem, essa cambada, que você é maior do que eles. E pode ficar certo: por enquanto, você não tem oportunidade aqui. Eles têm de provar, esse pessoal de Vitória, que você está errado. Querem seu castigo, sua queda. E isso tem de vir, Bernardo, se você não mudar. Só então eles vão dormir sossegados. Um homem pode aguentar que você lhe roube tudo. O que ele não suporta é ver ninguém abandonar a riqueza. Ou uma segurança. Nada no mundo enfurece mais.
Os quartos, com os móveis fora dos lugares, desprendiam um cheio de abandono. O mundo inteiro escapava ao seu amor, era impossível sustentar as coisas, ninguém domava nada. Fugitiva terra.
Muitas águas correram sobre mim, estou ficando velho, caio sempre, volto sempre, recomeço. “A vida é assim mesmo, dia bom, dia mau; é conformar-se.” Não.
E encontrei na solidez daquele homem, em seus cuidados para com ela, em sua maneira de ser e viver, qualquer coisa de áspero e amplo, que alegrava sua alma. Homem de horizontes largos.
E qual a diferença? Que me falta para um morto? Não sofrer, não desejar, não esperar – só isso.