“Eis a era patente das novas invenções
Para matar os corpos e salvar as almas,
tudo disseminado com a melhor das intenções.”
Lord Byron
O Americano Tranquilo, de Graham Greene, conta a história de Thomas, um jornalista inglês enviado para a guerra colonial no Vietnã e sua vida no país devastado entre as guerras locais e a presença de países europeus – como a França colonizadora – ou os Estados Unidos. Uma vez no país, ele passa a ter um relacionamento com Phuong, uma bela e quieta moça local, além de uma grande amizade com Pyle, um americano com envolvimentos políticos estranhos e serviços secretos desconhecidos. Os três, juntos, vivem um triângulo amoroso, repleto de reviravoltas, principalmente após, logo no começo do livro, eles serem avisados que Pyle havia sido encontrado morto. Quem poderá saber o que aconteceu com ele? O Americano Tranquilo é um dos grandes clássicos da literatura inglesa do século XX.
O NotaTerapia separou as melhores frases da obra. Confira:
Mataram-no porque era inocente demais para viver. Era jovem, ignorante, tolo e se envolveu. Não fazia que uma ideia, tanto quanto qualquer um de vocês, do que se trata a coisa toda, e lhe deram dinheiro.
A inocência sempre clama surdamente por proteção quando seria muito mais sábio de nossa parte nos resguardarmos dela: a inocência é como um leproso mudo que perdeu a sineta, bagando pelo mundo sem pretender fazer mal algum.
A morte era o único valor absoluto em meu mundo. Perca-se a vida e nada mais haverá para ser perdido, por todo o sempre. Eu invejava pessoas capazes de acreditar em Deus, e desconfiava delas. Sentia que mantinham a coragem graças a uma fábula do imutável e do permanente. A morte era uma certeza muito maior do que Deus e com a morte não haveria mais a possibilidade de amor perecível. O pesadelo de um futuro de tédio e indiferença se ergueria. Jamais poderia ter sido um pacifista.
É sempre a mesma coisa, aonde quer que a gente vá – os soberanos mais poderosos nunca governam as populações mais felizes.
“Quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Também desviei os olhos; não queríamos ser lembrados de quão pouco contávamos, quão rápido, fácil e anonimamente vinha a morte. Ainda que minha razão aspirasse ao estado de morto, eu tinha medo do ato como uma virgem. Gostaria que a morte viesse com o devido aviso, para que eu pudesse me preparar. Para quê? Não sei, nem como, exceto dando uma olhada em torno para o pouco que estaria deixando.
Grande parte da guerra é ficar sentado e não fazer nada, à espera de alguma outra pessoa. Sem garantira do tempo que lhe resta, não parece valer a pena iniciar nem ao menos um curso de pensamentos, que seja.
Como custa dinheiro, pensei, à medida que a dor cedia, matar os poucos seres humanos – matar cavalos sai muito mais barato.
Eu me conheço e sei da profundidade do meu egoísmo. Não me sinto à vontade com o sofrimento alheio, chegue isso ao meu conhecimento pela visão, audição ou tato. Às vezes, o inocente confunde isso com altruísmo, quando tudo que estou fazendo é sacrificar um bem menor – nesse caso, protelando os cuidados com meus ferimentos – em nome de um bem muito maior, a paz de espírito quando tiver de pensar apenas em mim mesmo.
As lembranças felizes são as piores e tentei recordar as infelizes. Eu tinha prática. Já vivera tudo aquilo antes. Sabia ser capaz de fazer o que fosse necessário, mas estava muito mais velho – sentia que me restava pouca energia para reconstruir.
“De que adianta? Sempre será inocente, não se pode culpar gente inocente, são sempre os menos culpados. Tudo que se pode fazer é controlá-los ou eliminá-los. A inocência é uma espécie de insanidade.”
“Mais cedo ou mais tarde”, disse Heng, e me lembrei da conversa com o capitão Trouin na casa de ópio, “a pessoa tem que escolher um lado. Se quer manter sua humanidade.”
Edição: Biblioteca Azul, 2016
Tradução: Cássio de Arantes Leite