Quando ouvimos uma grande frase, parece que o mundo começa a fazer sentido, ou pelo menos, ganha um contorno que faz com que acreditemos que é possível dar um sentido a todo o caos do mundo. Quando estas frases são nossas vizinhas, ou seja, foram ditas no nosso tempo, a impressão é de que elas radiografam um momento instável que, muitas vezes, ainda não conseguimos capturar com clareza. Pensando nisso, o site português Ler separou 26 incríveis frases de escritores e artistas ditas no primeiro semestre de 2016. Todas elas são sobre a arte e atualizam o momento em que vivemos. Confira:
«As histórias são o melhor antídoto contra o fanatismo.»
Jostein Gaarder, escritor. El País.
«Nós, artistas, somos canibais.»
John Banville, escritor. El País
«O melhor crítico é sempre o leitor.»
António Tavares, vencedor do Prémio LeYa. Diário de Notícias.
«Sem erotismo, a vida não tem a menor graça.»
Chico César, músico e poeta, autor de Versos Pornográficos. O Globo.
«A poesia tem uma sensualidade infernal.»
Maria Bethânia, cantora. O Globo.
«No nosso tempo há uma sacralização das vítimas. São convertidas em heróis.»
Javier Cercas, escritor. i.
«A edição não é uma ciência, é antes uma questão de gosto.»
Sonny Mehta, editor. El País.
«O assédio sexual na ciência começa geralmente assim: uma mulher (uma estudante, uma técnica de laboratório, uma professora) recebe um e-mail e percebe que a linha onde vem o “assunto” é um pouco estranha: “Preciso de falar contigo”, ou “Os meus sentimentos”. As primeiras linhas referem-se ao estado físico e mental alterado do seu autor: “É tarde e eu não consigo dormir” é um clássico, embora “Talvez seja das três doses do conhaque” também seja popular nas universidades.»
Hope Jahren, professora of geobiologia e autora do livro de memóriasLab Girl (Random House). The New York Times.
«A chance de um romancista em auto-publicação ter uma recensão ao seu livro na grande imprensa é a mesma de o meu cão não comer uma salsicha. A chance de um autor indie ser convidado para um grande festival de literatura? É como Donald Trump pedir desculpa ao México.»
Ros Barber, escritor. The Guardian.
«Por algum motivo preocupamo-nos mais em mudar o mundo do que mudar-nos a nós mesmos.»
Rodrigo Cortés, cineasta e escritor espanhol. ABC.
«Terei sido inconveniente e arrogante, mas neste momento sou um cara normal.»
Manuel João Vieira, músico. Notícias Magazine.
«O maior orgulho da minha vida não são os livros, é ter o amor dos meus soldados.»
António Lobo Antunes, escritor. Jornal de Negócios.
«A cultura da nota é nociva.»
Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação. Diário de Notícias.
«A crítica? Ela é sobretudo mal fundamentada e mal escrita. É pegar ou largar. Louvores, grandes frases na capa do livro?’Irrelevante. Na verdade eu não entendo muitos dos comentários sobre os meus livros. Os meus amigos não costumam lê-los. Devem achá-los deprimentes. Não me importo. Eu acho que a maioria dos escritores são monomaníacos; o remédio é ir em frente. Continuar.»
Anita Brookner, escritora, falecida em março de 2016. Última entrevista no The Daily Telegraph.
«Apesar das virtudes, ele era um maluco.»
Juan Thompson, sobre o pai, o escritor Hunter S. Thompson. O Globo.
«Sou egoísta, um egocêntrica, polígama, amoral, irresponsável, desequilibrada, definitivamente um péssimo exemplo para a sociedade.»
Doris Lessing, escritora, numa carta de 1944 agora divulgada. The Guardian.
«Não me apetecia nada morrer amargurado.»
Jorge Silva Melo, autor e encenador. Diário de Notícias.
«Só para explicar de que trata o romance são precisos 45 minutos. E, no entanto, toda a gente fica surpreendida com a velocidade a que avança o livro.»
Robert Falls, encenador do Goodman Theatre, de Chicago, que adaptou 2666, de Roberto Bolaño (1100 páginas), para a nova temporada – num total de 4h30. The New York Times.
«Eu tenho uma ideia que não sei se está confirmada, mas creio que toda a situação de tensão, medo e claustrofobia desencadeada em Lima naqueles tempos [os de Alberto Fujimori na Presidência] mostrou o sexo como uma tábua de salvação no meio do caos, uma forma de fugir da realidade. Uma busca do prazer para escapar de todo aquele horror político.»
Mario Vargas Llosa, sobre Cinco Esquinas, o seu novo romance. El País.
«Exprimir preocupação sobre o racismo é uma nova religião, e concentrar-se em questões de linguagem em vez de analisar a mecânica política e os seus significados é o meio mais fácil e mais seguro de ter a certeza de que se é visto na primeira fila da nova igreja.»
Jarett Kobek, autor do romance I Hate the Internet. The New York Times.
«Há de haver sempre um caminho armadilhado entre o autor e o seu leitor, graças aos agentes, editores à percentagem, técnicos de marketing, números de vendas na Amazon, por aí fora. A vida era mais fácil quando os editores não pediam uma sinopse, mas simplesmente liam o romance (sobretudo isso: tinham tempo para lê-lo) e tomavam uma decisão.»
Fay Weldon, escritora. The Independent.
«O homem sem memória, sem filosofia e sem escrita não é nada. Também não é nada sem tristeza, sem fatalismo, sem violência e paixões. Como um sequestro da política pela economia e um sequestro da liberdade pela segurança, há também um sequestro do conhecimento humanístico em nome do utilitário.»
Ricardo Menéndez Salmón, escritor. ABC.
«Nada falha tanto como o sucesso.»
Jean d’Ormesson, escritor. Le Magazine Littéraire.
«Há dias Kafka e há dias Agatha Christie. Há dias em que se vai passear acompanhado por D’Artagnan e Athos, e outros dias pelo Rei Lear.»
Javier Marías, escritor. El País.
A um tonto não há forma de convencê-lo a que deixe de ser tonto. É preciso descer ao seu nível. E,nesse nível, os tontos são imbatíveis.»
Arturo Pérez-Reverte, escritor. ABC.
Fonte: http://ler.blogs.sapo.pt/