Persuasão conta a história de Anne Elliot, uma mulher de 27 anos, solteira, vinda de uma família aristocrática em plena decadência, mas que deseja, acima de tudo, manter seu status. Seu pai, Sir Walter e sua irmã Elizabeth, assim como sua irmã Mary vivem em um mundo de convenções sociais em que é preciso, antes de tudo, manter o que se tem para, em um segundo momento, conseguir um pouco mais.
A obra é a última escrita por Jane Austen, em 1815, logo após ter terminado Emma e, inclusive, sua primeira versão já foi concluída quando doente. Sua personagem principal nesta obra é, logo de cara, mais subversiva que as demais: Anne é uma mulher sensível e inteligente. Uma das poucas, pelo menos em grande parte da obra, capaz de perceber os jogos que estavam por trás daquela sociedade.
Veja também: 5 motivos para assistir ‘Persuasão’, filme da Netflix baseado em Jane Austen
O NotaTerapia separou as melhores frases da obra. Confira:
Não haverá nada de singular em seu caso, e aquilo que muitas vezes constitui a pior parte de nosso sofrimento, assim como sempre constitui a pior parte de nossa conduta, é a singularidade.
Ser qualificada de útil, ainda que de forma inadequada, pelo menos é melhor do que ser rejeitada como inteiramente inútil.
O porte físico e a tristeza mental certamente não precisavam ser proporcionais. Uma pessoa grande e volumosa tem o mesmo direito de se mostrar profundamente aflita que a mais graciosa das criaturas. Porém, seja isso justo ou não, existem conjunções pouco felizes que a razão tentará em vão defender…que o gosto não consegue tolerar…e que serão tomadas pelo ridículo.
Anne possuía uma delicadeza de espírito suscetível a se deixar afetar pela conduta irrefletida de uma mulher bem intencionada, e um coração propenso a se identificar com qualquer sofrimento que esta acarretasse.
Para ela, o prazer da caminhada devia advir do exercício e do dia ensolarado, da contemplação dos últimos sorrisos do ano sobre as folhas amareladas e as sebes ressequidas, e da repetição para si mesma de algumas das milhares de descrições poéticas do outono, estação de influência singular e inesgotável sobre as personalidades frágeis e refinadas, e que havia inspirado em todos os poetas dignos de serem lidos alguma tentativa de descrição ou algumas estrofes sensíveis.
Anne se perguntou se agora lhe ocorreria questionar a propriedade de sua opinião anterior com relação à felicidade e à vantagem universal da firmeza de caráter, ou se talvez ele pensasse que, assim como todas as outras virtudes da mente, esta precisava ter a sua proporção e os seus limites. Em sua opinião, era quase impossível ele não perceber que um temperamento maleável podia às vezes favorecer tanto a felicidade quanto um caráter muito decidido.
Ele permanecia como um registro de muitas sensações de dor, outrora intensas, mas agora mais brandas, e de algumas ocasiões de indulgência, de trégua amigável e de reconciliação que nunca mais poderiam ser esperadas, e que jamais deixariam de ser preciosas. Ela deixou tudo para trás, tudo a não ser a lembrança de que essas coisas haviam ocorrido.
Um espírito submisso talvez fosse paciente, uma inteligência forte proporcionaria decisão, mas havia algo mais: havia nela uma plasticidade da mente, uma disposição para passar em um instante do mal ao bem e para encontrar ocupações que lhe permitissem se distrair de si mesma que advinham exclusivamente de sua índole.
Por que metade de si era sempre tão mais sensata do que a outra metade, e sempre desconfiava de a outra fosse pior do que na realidade era?
Não se ama menos um lugar pelo fato de nele se ter sofrido, a menos que tenha havido apenas sofrimento, nada além de sofrimento.
Não admito que seja da natureza masculina mais do que da feminina ser inconstante e esquecer quem se ama, ou quem já se amou. Acredito no contrário. Acredito que uma verdadeira analogia entre nossas estruturas físicas e mentais; e acho que quando nossos corpos são mais fortes, o mesmo se dá com os sentimentos; estes são capazes de suportar os tratamentos mais rudes, e de enfrentar os mais árduos climas.
Os homens tiveram todas as vantagens em relação a nós no que diz respeito a contar sua versão da história. Eles tiveram uma educação muito mais refinada; a pena sempre esteve em sua mão. Não vou aceitar nenhuma prova tirada dos livros.
Cada um de nós provavelmente começa com uma leve parcialidade em relação ao próprio sexo; e, a partir dessa parcialidade, interpretamos todas as circunstâncias em seu favor já ocorridas em nosso círculo, muitas das quais (talvez precisamente nos casos que mais nos impressionam) talvez sejam justo do tipo que não se pode citar sem trair uma confidência, ou de alguma forma dizer o que não deveria ser dito.
Considero vocês, homens, capazes das mais grandiosas e boas ações em suas vidas de casados. Acredito que possam desempenhar igualmente todos os esforços importantes e todas as obrigações domésticas, contanto que…se me permite usar esse termo, contanto que tenham um objeto. Ou seja, enquanto a mulher que amam viver e viver para vocês. O único privilégio que reivindico para meu sexo (que não é dos mais invejáveis; não há porque cobiçá-lo) é o de amar por mais tempo quando o objeto ou a esperança já se foram!
A simples visão de sua amiga sentada atrás da senhorita, a lembrança do que havia ocorrido, a consciência da influência dela, a impressão indelével, inalterável do que a persuasão um dia havia ocasionado…isto tudo não estava contra mim?
Preciso subjugar minha mente ao meu destino. Preciso aprender a tolerar ser mais feliz do que mereço.
Algumas pessoas possuem uma rapidez de percepção, uma delicadeza no discernimento do caráter, uma compreensão natural, em sua, que nenhuma experiência é capaz de igualar nos outros.
Edição: Clássicos Zahar, 2016