A Arte e a Maneira de Abordar seu Chefe para Pedir um Aumento é uma obra do francês Georges Perec escrita a partir de um organograma empresarial apresentado ao escritor (veja o organograma ao final da matéria). A partir deste organograma que faz uma espécie de mapa de como um funcionário dever abordar seu chefe para conseguir o tal aumento, Perec compõe uma obra que se dá sempre em uma face dupla de acúmulos e perdas: o funcionário deve ir até a sala do chefe, se ele está bata, se não espere conversando com tal funcionária e tente em outro momento. Assim, em tentativas futuras as múltiplas possibilidades se acumulam, tornando a obra um enorme emaranhado linear de uma tentativa que traz em si o total e completo dispêndio de tempo – e vida – em todas as outras tentativas frustradas da série.
A obra é descrita em sua orelha como um livro de “antiajuda”, na medida em que apresenta a outra face da escrita: uma totalidade da linguagem que impede o acesso ao fim. Um acúmulo sem áreas de escape, sem pontos, sem vírgulas. Eis a tragicidade da língua.
Uma curiosidade da obra está na adaptação feita para o teatro no Rio de Janeiro como protagonista Marco Nanini, em que, de certa forma, cada escolha era feita enquanto o espetáculo acontecia.
O NotaTerapia separou os 7 melhores trechos da obra. Confira:
ainda que não se deva nunca esquecer como disse Ionesco que quando batemos à porta às vezes há alguém e outras vezes não há ninguém a verdade estando como todos sabemos entre uma coisa e outra
sera que a arte e a maneira de abordar um chefe de departamento ou presidente para pedir um aumento tem ou não tem alguma relação coma arte e a maneira de abordar um chefe imetiado com a mesma intenção esse é um grade problema que os dados de que dispomos atualmente não nos permitem solucionar nem mesmo considerar com aparência de realismo
ei-lo portanto diante do que podemos qualificar como um instante crucial pare de se coçar relaxe respire fundo lembre-se de que não é necessário esperar para tomar a iniciativa nem ser bem-sucedido
logo só lhe restará sair não desanime no fim das contas até que você não ganha tão mal assim a sua vida será que tem mesmo necessidade de um aumento bastaria cortar o supérfluo o aquecimento as roupas os transportes passar a fazer todas as refeições do meio-dia na cantina e comer verduras cozidas a noite para conseguir fechar o mês aliás é bem sabido que as verduras cozidas estimulam a imaginação criativa
ou bem ele acha a sua ideia positiva profícua que ela vale a pena ou bem ele a acha estúpida e vai em algumas palavras bem sopesadas fazê-lo compreender que você raciocina como se comesse mosca como uma porta isto é com uma falta de inteligência que confina ou bem com a senilidade precoce ou bem com a idiotia congênita note que tratá-lo de tonto de bobo de cretino de pateta de estabanado de doidivanas de gagá de débil mental de imbecil ou de palerma dá no mesmo
você aprendeu pois todo fracasso comporta uma lição que deve saber meditar para mais tarde tirar proveito aprendeu portanto que a tenacidade compensa
você na certa até fica com vontade de desconfiar mas como diz lucy van pelt a charlie brown ao convidá-lo a chutar uma bola de futebol americano que ela vai retirar bem na hora do arremesso do referido charlie brown provocando assim uma queda tão mais dolorosa pela humilhação
Edição: Companhia das Letras, 2010