Com poemas escritos ao longo dos últimos anos, Baleia é coletânea que traz solenidade e experimentalismo na mesma medida
Para a psicanálise, a falta é motor do desejo. E é em direção ao sentido que está sempre escapando que Felipe Bier, psicanalista e pesquisador de Guimarães Rosa, ruma em sua poesia. Baleia (Urutau, 2025) é sua estreia no gênero e entrega momentos notáveis ao leitor.

Como no poema “Do vento”, que produz uma paisagem tão etérea quanto física. Em versos que, espalhados pela página, também imitam o movimento do vento e o som pendular das ondas. A sonoridade marcante dos poemas atravessa todo o volume.
No texto de orelha da edição, a escritora Maria Fernanda Elias Maglio, que já venceu o Jabuti na categoria contos, adianta alguns dos elementos dos poemas: “A natureza ativa: o sal, a pedra, os cachorros, o mar, a chuva, os fiordes de cana, o deserto. Os lugares onde a vida acontece, onde a vida estanca: São Paulo, Cajuru, Pompeia, Campinas, Roma, Itamambuca.”
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Felipe Bier nasceu em Campinas, SP, cidade onde hoje vive, depois de alguns períodos no exterior. Com doutorado em Teoria Literária pela USP, pesquisou João Guimarães Rosa e realismo literário. Entre suas referências na poesia, autores canônicos e contemporâneos: Drummond, Manuel Bandeira, Carlito Azevedo, Rimbaud, Sylvia Plath, EE Cummings, Arnaldo Antunes, Haroldo de Campos, Mar Becker, Marina Rima e por aí vai.
Sobre a produção do livro, Bier relata que os poemas foram escritos nos últimos dez anos: “Em muitos momentos ele captura as turbulências políticas do país – golpes, ascensões do fascismo, retomadas democráticas. Capturar o fechamento completo do horizonte forçou-me, poeticamente, a encontrar saídas”, conclui.
Sobre o autor

Felipe Bier nasceu em 1985, em Campinas, São Paulo. É psicanalista, poeta e doutor em Teoria Literária pela USP. O livro Baleia marca a estreia na poesia, e como objeto sedimentar, é acúmulo de uma produção de anos.
Enquanto poeta, considera-se mascate, atravessando os territórios da prosa, da teoria, da psicanálise. A poesia é o limite da palavra, o lugar para onde as histórias dos outros, secas pelo sol, são levadas de volta à carne.

