Precisa-se de filmes compactos. Longas-metragens de curta duração – por mais paradoxal que isso soe – estão sendo procurados pelo público, daí o sucesso de listas do Letterboxd com títulos como “Filmes com menos de 90 minutos”. Alguns culpam a baixa capacidade do jovem de se concentrar por muito tempo, culpa do celular, mas a explicação está mais próxima da falta de tempo livre para apreciar um bom filme. Com apenas 67 minutos de duração, “Sofia Foi” entra nestas listas e nos proporciona um retrato da moderna solidão.
Sofia (Sofia Tomic) não tem para onde ir, então monta acampamento na cantina da USP e lá mesmo, entre estudantes conversando, oferece seus serviços de tatuadora. Além de não ter para onde ir, recentemente Sofia sofreu outro baque: a morte de uma amiga, talvez mais que amiga, vítima de febre amarela.
Às três e quarenta e dois da manhã, depois de ir a uma festa, adormecer a céu aberto e ter seu celular e carteira roubados, Sofia tem uma conversa profunda com outro estudante que acabara de conhecer. Temperada por um baseado – algo que corrobora com a narrativa depreciativa de que todo estudante da USP é maconheiro – a conversa vai por caminhos tortuosos mas importantes para aquela dupla de sujeitos, como as dificuldades para a permanência na universidade.
Solidão, nos tempos atuais, é sentir-se só no meio dum mar de gente. É olhar para o celular e dar-se conta de que todas aquelas curtidas, seguidores, amigos não significam conexões humanas valiosas. É ser ou sentir-se, como na música “Telegrama” de Zeca Baleiro, “mais solitário que um paulistano”. É uma sensação compartilhada por adultos, idosos e sobretudo por jovens, atravessados ainda por questões que assombram também nossa protagonista Sofia, como relacionamentos e futuro.
Salta-nos aos olhos o fato de alguns membros da equipe acumularem funções. Pedro Geraldo dirige e monta. Sofia Tomic escreve, estrela e cuida da direção de arte. Ambos produzem e são responsáveis pelo som direto. Escolha como causa para o fenômeno o que você preferir: apreço pelo controle criativo ou precarização profissional no cinema brasileiro. Mas nenhum dos dois é verdade: Pedro Geraldo, que aqui estreia na direção de longas, quis fazer um filme com poucas mãos e ambientar na capital paulista um “coming of age” conforme declara:
“O filme retrata o período limiar de transição da adolescência para a vida adulta e as angústias desse processo de amadurecimento”
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Autoral e profundo, um drama queer cheio de lacunas a serem por nós preenchidas, um filme sobre uma juventude não transviada, mas traída pelos mais velhos – em especial os governantes – e que por isso não tem onde ir, muitas vezes literalmente, mas em geral no sentido figurado, mais profundo e filosófico. Talvez você seja uma Sofia neste momento. Mas a verdade é que, mesmo sem termos dormido na cantina da USP, todos nós já fomos Sofia em algum momento das nossas caminhadas.
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