Texto sobre Carolina de Jesus escrito por Fernanda M., a convite do Jornal Nota
“Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade”.
Carolina Maria de Jesus
Quando uma mulher senta para escrever, a ela não são oferecidos silêncio, quietude e consideração. À mulher cabem muitas ocupações que não são fáceis de serem administradas, não importa o quanto elas estejam desconstruídas, o tempo em que elas vivem, nem onde habitam.
O fato é que quando você imagina que uma mulher começou a escrever, você não pensa na quantidade de coisas que ela teve de fazer previamente: olhar as crianças, verificar o almoço, se a casa está devidamente limpa e se não está faltando nada na despensa.
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Obrigações declaradas ou não, há uma cobrança e uma culpa que acompanham as mulheres perpetuamente e que não as permite apenas esquecer o “mundo lá fora” e simplesmente dedicar um tempo para a escrita.
Carolina Maria de Jesus, em meio a todas essas atividades, era catadora de papel, morava no quarto de despejo social, e não tinha perspectiva alguma de quando seria a próxima refeição para si e para seus 3 filhos.
Quando chovia, Carolina lamentava. A chuva não alimentava sua inspiração, sua escrita advinha do real, do sofrimento, dos infortúnios. O caos era o objeto, tudo que tinha, tudo que escreveu.
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Ler mulheres é revolucionário, pois fomenta o trabalho dessas que escrevem “apesar de”, e não “por causa de”. dessa forma respondo a pergunta: Por que ler Carolina Maria de Jesus?
Porque a escrita de Carolina é resistência! É a representação em última instância de todas as dificuldades que uma mulher tem para escrever, e sobretudo para ocupar espaços literários, relegados por tanto tempo. Leia Mulheres! Leia Carolina!
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