Pesquisa publicada recentemente pela Oxford University Press, da Inglaterra, afirma que o dramaturgo elisabetano contribuiu com a escrita da peça Henrique VI, atribuída até o momento apenas ao bardo de Stratford-upon-Avon. A editora da universidade acredita, ainda, que 17 das obras de Shakespeare foram coescritas com a contribuição de outros autores.
Uma pesquisa recente da Oxford University Press afirma que Christopher Marlowe, dramaturgo do período elisabetano, coescreveu a peça Henrique VI com William Shakespeare, de acordo com informações da BBC. Além disso, a editora inglesa anunciou que todas as edições publicadas a partir de agora devem conter a assinatura de Marlowe juntamente com a de Shakespeare, alegando que “a colaboração de Marlowe foi importante e suficientemente clara o bastante para se alterar a perspectiva sobre a atribuição de autoria da obra“.
Os três volumes com o novo modelo de assinaturas figurarão em New Oxford Shakespeare, uma nova edição que incluirá todas as obras do bardo. Henrique VI, no entanto, será a única obra reatribuída a ambos escritores, embora a editora acredite que Shakespeare frequentemente trabalhasse acompanhado de outros escritores. O reconhecimento de Marlowe como coautor deesas três obras lança luz sobre os vínculos entre os dois escritores depois de séculos de especulações e teorias da conspiração. “Foi possível comprovar a presença de Marlowe nessas três obras. Agora, podemos ter certaza de que os dois não apenas se influenciaram mutuamente como rivais, mas que trabalharam juntos“, afirma Gary Taylor, editor da Oxford University Press.
A questão relativa a se Shakespeare realmente escreveu todas as obras que lhe são atribuídas é objeto constante de intermináveis discussões, e uma das teorias mais recorrentes nesse cenário indica que elas, na verdade, foram escritas por Marlowe – uma possibilidade descartada pelos especialistas na obra do conhecido dramaturgo. A pesquisa, realizada com a colaboração de 23 especialistas internacionais, identificou 17 das 44 obras de Shakespeare como tendo sido escritas de forma colaborativa com outros autores, e esse número é maior do que se acreditava anteriormente. Para isso, os pesquisadores combinaram técnicas de análise textual tradicional com métodos modernos baseados em ferramentas computacionais e em novas tecnologias.
Em defesa dos resultados pesquisa, Taylor salientou que os acadêmicos envolvidos utilizaram bases de dados de obras e outros escritos do período elisabetano não apenas escritos por Shakespeare ou Marlowe, mas por muitos outros escritores da época, para encontrar os conjuntos de palavras ou frases capazes de distinguir as informações. “Esse tipo de pesquisa em que se utiliza metadados tornou-se disponível há pouco tempo. Nesse caso em específico, há trechos que foram claramente escritos por Shakespeare, e outros que claramente pertencem a Marlowe“, afirmou, além de destacar que os melhores fragmentos foram de fato escritos por Shakespeare.
Entretanto, essa polêmica já vem de muito tempo. Já no século XVIII se começou a suspeitar que Christopher Marlowe, conhecido dramaturgo em sua época – inclusive mais do que o próprio Shakespeare – havia colaborado na criação das partes I, II e II da peça Henrique VI. Contudo, trata-se da primeira vez que essa teoria é realmente comprovada. Marlowe, autor de O Judeu de Malta, A Trágica História do Doutor Fausto e Eduardo II, é amplamente conhecido dentro da cultura popular britânica como o grande rival de Shakespeare, embora Taylor acredite que esse suposto antagonismo trate-se de mera especulação.
Esse assunto, porém, não está totalmente fechado, adverte Carol Rutter, professora de estudos shakespereanos da Universidade de Warwick, também situada na Inglaterra. “Mas são as pessoas que têm de ser convencidas. Não acho que apenas o fato de a Oxford University Press atribuir a autoria para Marlowe fará com que a maioria das pessoas deem esse assunto por encerrado“, disse Rutter. A especialista reconheceu que o também poeta e autor colaborou com várias personalidades do teatro da época, mas que seria “uma surpresa” se o nome de Marlowe também fosse incluído nessas obras. “O fato é que, quando estavam escrevendo essas peças, Marlowe era um dramaturgo mais famoso. Por que então ele iria aceitar colaborar com um escritor que ainda não era ninguém?“, argumenta Rutter.