Destaque da Flup, que acontecerá entre os dias 19 e 30 de novembro na cidade do Rio de Janeiro, o autor de Martinica, Patrick Chamoiseau, prepara-se para lançar mais um livro, pela tradução de Henrique Provinzano Amaral. Subvertendo as fronteiras entre ensaio e literatura, Patrick Chamoiseau se interroga em O contador, a noite e o balaio (Editora 34) sobre a escrita, a fala e a criação. Partindo da “oralitura”, central na poética antilhana, o autor se volta para o velho negro escravizado, nas Antilhas do século XVII, que à noite se metamorfoseia em “mestre da palavra”.

É o contador crioulo, pai fundador da literatura antilhana, que com sua palavra formula uma resistência improvável à colonização. Momento criativo e criador, a palavra crioula inaugura um sistema de forças que se opõe à violência nas plantações.
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Por que o balaio e a fala que surge apenas à noite? Circulando por mistérios e não ditos, o autor questiona o trabalho do escritor e visita a intimidade de sua memória com reflexões permeadas de poesia, pois se valem da língua-instrumento “para perceber além da ‘realidade visível’”.
“Impressionante é palavra que define bem a escrita-pensamento de Patrick Chamoiseau, artista do verbo preciso, da memória imaginante, desbordante, propensa a sensíveis e, por vezes, vertiginosas perscrutação daquilo a que damos o nome de linguagem: “Sem me dar conta, com essa ânsia de escrever, eu caminhava lentamente em mim mesmo e lentamente na matéria daquilo que, ao meu redor, repercutia o mundo”. Pensador e vivedor de uma literatura que se pretende, também, “oralitura”, Chamoiseau nos convida, com este esplêndido O contador, a noite e o balaio, a adentrar uma roda noturna que faz girar, junto com a gente que dela toma parte, os possíveis — porque imagináveis — das línguas e do mundo.” Ricardo Aleixo
Para a Revista 451, Chamoiseau afirma que “a linguagem não é o estilo. O estilo é um adorno, um embelezamento da língua. A linguagem, por sua vez, revoluciona a língua e a obriga a se abrir para além de si mesma, a desejar todas as línguas do mundo. Quando a linguagem de um escritor é poderosa, a beleza é suscetível de visitá-lo. Se a beleza visita uma obra, isso significa que ela tocou aquele mistério que chamamos de literatura. Mas isso é muito raro”
Apresentação de sua estética literária e porta de entrada para sua obra romanesca, o ensaio aborda temas relacionados à dança, à música e a diversos tipos de arte. Passeando por suas filiações literárias, como Aimé Césaire e Édouard Glissant, o autor nos coloca diante dos principais desafios da literatura contemporânea, destrinchando seus pontos de contato com a oralidade dos sábios contadores.
Francês nascido na Martinica (1953), vencedor do Prêmio Goncourt com o romance Texaco (1992), Patrick Chamoiseau é uma das vozes mais expressivas da literatura caribenha, com uma obra vasta que se inscreve no cruzamento das línguas francesa e crioula.
Quem é Patrick Chamoiseau?
Patrick Chamoiseau, nascido em 1953 em Fort-de-France, Martinica, é uma das vozes mais importantes da literatura caribenha. Graduado em Direito e Economia, exerceu a função de educador social na França e depois na Martinica. Interessado por etnografia, ele se debruça sobre a formas culturais em vias de desaparecimento de sua ilha natal, mas também sobre o dinamismo de sua língua materna, o crioulo.

Em 1986, publica seu primeiro romance, Chronique des sept misères, vencedor dos prêmios Loys Masson e Kléber-Haedens, e dois anos depois, Solibo Magnifique. Em 1989, juntamente com Jean Bernabé e Raphaël Confiant, escreve o influente manifesto Éloge de la créolité, inspirado nas teorias da negritude de Sédar Senghor e Aimé Césaire, em que reivindica uma identidade caribenha pautada na mestiçagem cultural. Desde então, assinou diversos ensaios, notadamente Lettres créoles (1999), com Raphaël Confiant, e L’intraitable beauté du monde (2009), com Édouard Glissant. Em 1992 recebe o prestigioso prêmio Goncourt pelo romance Texaco, nome de um bairro negro em Fort-de-France. Mais recentemente lançou Contes des sages créoles (2018), os ensaios de Le conteur, la nuit et le panier (2021), o manifesto poético Frères migrants (2017) e o atualíssimo Que peut Littérature quand elle ne peut? (2025), em que faz uma aposta no poder da literatura em acolher a alteridade e construir relações num mundo cada vez mais polarizado e opressor.
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1 comentário
Incrível! Não conheço esse escritor caribenho, mas já quero ler sua obra.