“A culpa é minha?” Imagine a seguinte cena: Uma mulher, vítima de abuso sexual, entra em uma delegacia e tenta explicar o que aconteceu. A primeira pergunta que lhe fazem é: “você estava vestida com esta roupa?”
Foi para combater esse tipo de questionamento e desmistificar o mito da “culpa da mulher”, em crimes de assédio, em 2018, foi realizada na Bélgica, a exposição “A culpa é minha?” – uma prova de que a arte também é política.

A exposição foi composta por roupas de vítimas de estupro no dia em que sofreram o ataque. E uma das coisas que chamam a atenção é que são roupas consideradas “normais”, na contramão da ideia de que “mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”, opinião compartilhada no Brasil por mais de 32% dos homens, segundo uma pesquisa realizada em 2016, encomendada pela Datafolha.
No geral, as roupas são camisetas e calças discretas, roupas folgadas e até mesmo pijamas, contradizendo totalmente essa lógica de que a roupa que a mulher está vestida é motivadora dos casos de violência.
A culpabilização das vítimas em casos de violência ainda é um grande problema, tendo em vista que muitas mulheres se questionam, de alguma forma, foram as responsáveis pelo ocorrido, seja por alguma atitude, seja pela roupa que estava vestindo.
Em 2023, foi registrado no Brasil um estupro a cada 6 minutos, representando um aumento de 6,5% dos casos em relação ao ano de 2022, batendo esses tristes recordes de violências, principalmente contra mulheres negras e meninas com idade inferior a 13 anos, provando mais uma vez que, esse tipo de crime nada tem a ver com a roupa da vítima.
Estamos em 2025, e ainda vivenciamos uma realidade na qual mulheres são violentadas e continuam se sentindo culpadas. Enquanto isso, agressores continuam impunes e sem participar deste diálogo, como se nada tivessem feito, ou a nada responder.
É muito emblemático que no mês da mulher, possamos trazer a lembrança desta exposição que aconteceu em 2018, e continua atual com uma mensagem que deve continuar promovendo o debate e a inclusão de todas as pessoas nesta discussão que, mesmo agora, em 2025, não se esgota.