Por décadas, o cinema de horror foi erroneamente considerado um território exclusivo dos homens, apesar de as mulheres sempre terem uma relação visceral e transformadora com o gênero. No Brasil, muitas dessas produções permaneceram à sombra, sem o reconhecimento merecido, mesmo quando desafiaram convenções com narrativas ousadas e soluções criativas — como filmes feitos com orçamentos mínimos, nos quais a inventividade suplantou as limitações técnicas.
Essa lacuna histórica, porém, está sendo preenchida por uma nova onda de visibilidade, que resgata desde pioneiras dos anos 1970 e 1980, que lutaram para se expressar em um meio dominado por homens, até cineastas contemporâneas que usam o horror para dialogar com urgências sociais atuais.
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A pluralidade é a força motriz dessa revolução: do gore artesanal a obras aclamadas em grandes festivais, o gênero revela sua capacidade de explorar medos universais — como opressão, solidão e violência — através de perspectivas femininas que vão do Brasil ao mundo.
Abaixo, destacamos cinco obras essenciais que comprovam a potência criativa das mulheres no gênero:
1. Quando Chega a Escuridão (1987)
Direção: Kathryn Bigelow (EUA)
Um faroeste vampírico que mistura romance, violência e estética punk. Bigelow, mais tarde vencedora do Oscar por Guerra ao Terror, explora a solidão e a selvageria de um grupo de vampiros nômades, questionando noções de pertencimento e humanidade.
2. Santa Maud (2020)
Direção: Rose Glass (Reino Unido)
Uma jornada perturbadora de fanatismo religioso e horror psicológico. A enfermeira Maud, interpretada por Morfydd Clark, vive uma crise espiritual que a leva a extremos aterrorizantes. O filme consolidou Rose Glass como uma das vozes mais originais do horror contemporâneo.
3. Medusa (2023)
Direção: Anita Rocha da Silveira (Brasil)
Distopia brasileira que critica o moralismo religioso através de um grupo de jovens que aterrorizam mulheres “pecadoras”. Com estética surreal e sombria, Rocha da Silveira constrói um retrato assustador da vigilância e da violência de gênero.
4. O Babadook (2014)
Direção: Jennifer Kent (Austrália/Canadá)
Um clássico moderno sobre luto e maternidade. A criatura do Babadook simboliza traumas inescapáveis, enquanto a relação entre mãe e filho se desdobra em tensão insuportável. Kent revolucionou o horror psicológico com sua narrativa visceral.
5. A Lenda de Candyman (2021)
Direção: Nia DaCosta (EUA)
Reinvenção do mito urbano com críticas sociais afiadas. DaCosta usa o terror para discutir racismo e gentrificação, mantendo a essência do original enquanto traz novas camadas de significado. O filme inclui um debate na mostra, destacando seu impacto cultural.
Onde assistir?
Os filmes acima fazem parte da mostra Mestras do Macabro, com curadoria de Beatriz Saldanha, que reúne 28 obras de cineastas mulheres de diversos países. A programação no CCBB Rio de Janeiro inclui ainda debates e um curso sobre o tema, ocorrendo até 14 de abril. Uma oportunidade para descobrir como o horror ganha novas camadas quando contado por vozes femininas.
Mestras do Macabro – as cineastas do horror ao redor do mundo será realizada em todas as unidades do Centro Cultural Banco do Brasil, com patrocínio do Banco do Brasil. Além do Rio de Janeiro, a mostra também será apresentada no CCBB Belo Horizonte (12 a 24 de março), CCBB São Paulo (20 de março a 20 de abril) e CCBB Brasília (14 de outubro a 2 de novembro).