“Sugar Babies”(2025) – Documentário mergulha nas desigualdades econômicas americanas

Texto de cobertura do Festival de Sundance 2025

Há um certo imaginário em relação às “sugar babies” que pintam a função como algo plenamente desejável. Ao comentar que iria assistir um documentário sobre o tema com uma amiga, ela brincou que “queria ser uma, inclusive”. Inicialmente, o filme Sugar Babies parece justamente alimentar essa pré-concepção de ser uma atividade de fácil execução e de alto rendimento financeiro.

Dificil não ter essa percepção diante da empolgação de Autumn, personagem central da obra dirigida por Rachel Fleit, ao ganhar 300 dólares com uma simples live realizada durante um encontro com amigos. A jovem não é uma sugar baby no sentido estrito da palavra, ela se descreve como uma “sugar baby sem o sugar” ou seja, sem o contato físico. Por meio de plataformas como Tinder, TikTok e Snapchat atua para seduzir homens – mais velhos – e conseguir dinheiro e outros mimos.

Mas ela não se restringe a isso. Com um espírito empreendedor de dar inveja ao mais picareta dos coaches, ela vende cursos ensinando outras jovens a fazer a mesma coisa, cobrando 40 dólares por pessoa, e ainda ensina às suas amigas os caminhos e truques de prática para que todas possam ter uma renda extra.

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Há certa leveza na maneira que essas atividades são retratadas. As entrevistas são quase todas feitas em grupo, durante a rotina dos jovens, moradores de uma região pobre da Louisiana. É comum as conversas se desviarem para outras pessoas ali presentes, sempre na brincadeira, e pouco a pouco nos “enturmamos” com esses jovens, todos saídos ou recém saidos do Ensino Médio.

Apesar do tom “manual de instruções” de Sugar Babies, com Autumn detalhando algumas de suas atividades para ganhar dinheiro, o longa gradativamente mostra o triste contexto que acaba por forçar essas e outras jovens a essas atividades para ter uma vida minimamente confortável. A região que vivem é pobre e sem grandes oportunidades, uma das amigas de Autumn detalha que, como boa parte dos empregos na região são braçais, a contratação de mulheres é baixa, restringindo ainda mais as possibilidades.

Fleit apresenta um contexto maior, que é o da luta por um salário mínimo digno na região, que está há mais de dez em anos US$7,25 por hora, com o governador reiteradamente tentando dobrá-lo, e repetidamente sendo negado. Os jovens também têm uma afinada percepção dos problemas que afligem a região, da precarização e da falta de interesse dos governantes em mudar de fato a situação.

Sugar Babies é curto, com 80 minutos de duração, mas é surpreendentemente denso, e a sensação é de ver um filme de 2 horas. Digo isso como elogio, pois o que poderia ser só um divertido olhar sobre uma atividade curiosa, se torna um mergulho nos diversos fatores que estão roubando toda uma geração de jovens de um futuro promissor.

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