Como “compartilhar estantes” pode salvar as livrarias do Japão?

Indo na contramão de livrarias que incorporaram cafés ou até academias para sobreviver à competição, muitas vezes desleal, com gigantes do comércio eletrônico varejista como a Amazon, o aluguel de prateleiras para venda de livros tem se tornado uma opção atraente no Japão. 

Pessoas, empresas e pequenas editoras, todos podem alugar prateleiras para vender livros que não necessariamente são populares, oferecendo, assim, opções mais diversificadas, fugindo dos algoritmos das redes sociais ou das vitrines das livrarias convencionais, que tendem a levar em conta as estatísticas de venda para decidir o que expor e o que não expor aos leitores.

Nós ignoramos tais princípios. Ou o capitalismo, em outras palavras. Quero reconstruir as livrarias.”

Shogo Imamura, dono de uma dessas livrarias em Tóquio

“Honmaru”, livraria compartilhada concebida por Shogo Imamura, vencedor do Prêmio Naoki. Foto: Yuichi YAMAZAKI

O aluguel de tais prateleiras varia de 4.850 a 9.350 ienes (R$ 190 a R$ 360) por mês com títulos que vão desde um livro ilustrado sobre queijos a livros de artes marciais e TI. 

Leia também: A língua como território de disputa em “A escrita no Japão da era Meiji”, de Seth Jacobowitz

Visto que a curadoria de cada prateleira não segue uma lógica de mercado, mas sim as paixões de seus locatários, é possível encontrar de tudo, o que, segundo os proprietários dessas livrarias, gera trocas interessantes e inusitadas que vão além da transação de compra e venda, transformando o espaço da livraria também em um ponto de encontro para “conversas sobre livros”.

(…) aqui não há um único livro que tenhamos que vender, só livros que alguém recomenda apaixonadamente.

Rokurou Yui, dono de três livrarias de compartilhamento de prateleiras em Tóquio

Além de um novo modelo de negócio que escapa de uma lógica utilitária, esse conceito funciona também como um resgate do prazeroso ato de folhear livros em papel em um contexto no qual muitas comunidades viram suas livrarias fecharem as portas nos últimos anos. Segundo a Fundação da Indústria Editorial do Japão para a Cultura, um quarto dos municípios do Japão não tem livrarias físicas e mais de 600 fecharam entre outubro de 2022 e março de 2024. 

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